Com informações da Agência Brasil - 13/06/2011
Domínio tecnológico
O Brasil ainda não lançou o satélite de observação Amazônia 1, previsto inicialmente para abril de 2010, por falta de domínio tecnológico.
De acordo com Marco Antônio Chamon, coordenador de Gestão Tecnológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), "a adaptação da indústria nacional aos padrões espaciais foi mais demorada do que se imaginava inicialmente. As indústrias penaram para aprender como fazer".
"Há uma curva de aprendizagem que não se consegue acelerar mais do que a um certo ritmo, independente da quantidade de pessoas ou do dinheiro que se coloque. Aprender a fazer tecnologia é mais complicado", explica Chamon, ao ressaltar que o projeto do satélite também tem como objetivo desenvolver tecnologia local.
Satélite Amazônia 1
O satélite, de 550 quilos, é totalmente brasileiro, feito sem parceria, e está em construção utilizando principalmente componentes criados por 15 empresas nacionais.
Segundo Chamon, a dificuldade principal está nos componentes eletrônicos.
"Em toda a parte de mecânica já temos maior segurança". Algumas peças produzidas não resistem às câmaras que simulam a variação de temperatura, vácuo e de impacto. "Às vezes, quebra. Volta para a bancada, daí se refaz e estuda. É um problema de aprendizado".
Prioridades, compromissos e metas
Para a consultora legislativa da área de ciência e tecnologia da Câmara dos Deputados, Elizabeth Veloso, a indústria espacial nacional tem dificuldade de se desenvolver por "falta de continuidade" do Programa Espacial Brasileiro. "Não há fluxo de compra", afirma, acrescentando que não "há prioridade", "faltam recursos" e "não há compromisso com o atendimento de metas".
Em sua opinião, o mau desempenho do programa deixa o país "à mercê das grandes potências" e "totalmente dependente" para monitorar por satélite a ocupação de terras e o desmatamento florestal, vigiar fronteiras, prestar serviços de previsão do tempo e prevenção de catástrofes (como enxurradas e grandes estiagens), descobrir riquezas mineiras e atender às demandas de telecomunicações, como a ampliação da banda larga.
Espiral descendente
Para o empresário Célio Costa Vaz, diretor da Orbital Engenharia Ltda, o programa espacial "encontra-se em espiral descendente. As empresas brasileiras dificilmente conseguem sobreviver apenas como fornecedoras do programa espacial e encontram dificuldades para se qualificar e competir no mercado internacional."
A Orbital acabou de entregar para o INPE o modelo de voo do gerador solar para o satélite Cbers 3, que o Brasil desenvolve com a China e pretende lançar em setembro de 2012 - interrompendo um apagão de satélites próprios desde abril do ano passado, quando terminou a vida útil do Cbers 2b.
Conforme o empresário, a indústria espacial brasileira sofre com a falta de "encomendas tecnológicas" e "maior volume e regularidade nas contratações realizadas para os projetos operacionais".
Além do Amazônia 1, há atrasos e indefinições no cronograma do satélite do Programa Internacional de Medidas de Precipitação (em parceria com os Estados Unidos), do Satélite de Sensoriamento Remoto com o Imageador Radar (Mapsar, parceria com a Alemanha), e do Satélite Lattes (para experiências científicas).
Visão de curto prazo
Em julho, o governo federal deverá estabelecer metas que pretende atingir e valores a serem gastos com o desenvolvimento e a aquisição de satélites artificiais no período de 2012 a 2016.
Até o fim de agosto, a proposta será encaminhada ao Congresso Nacional, no Projeto de Lei do Plano Plurianual (PPA) que o governo está elaborando.
Por enquanto, a expectativa é que o Brasil consiga lançar nos próximos anos o satélite nacional Amazônia 1 (previsto para 2013) e dois satélites com a China, o Cbers 3 e 4 (previstos para 2012 e 2014, respectivamente).
O gasto com o desenvolvimento e lançamento dos três satélites está calculado em torno de US$ 200 milhões, e segundo Marco Antônio Chamon, coordenador de gestão tecnológica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), há recursos já empenhados para o desenvolvimento da tecnologia.
"A questão orçamentária para esses satélites é menos complicada", garante o coordenador. De acordo com ele, há orçamento definido no governo. "Todos os pedaços desses satélites já estão contratados na indústria", assegura ao afirmar que a intenção é evitar, no futuro, "que não aconteça o que está ocorrendo agora: esse período sem nenhum satélite sob o nosso controle no espaço".
Continuidade incerta
O que virá após esses lançamentos, contudo, é mais incerto, porque a continuidade dos projetos é uma questão em aberto. Esses projetos e outros já anunciados (inclusive parcerias com os Estados Unidos e a Alemanha) vão depender de orçamento.
De acordo com o Caderno de Altos Estudos elaborado pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, o gasto orçamentário é insuficiente e irregular.
O gasto brasileiro com satélites artificiais, que fica abaixo dos US$ 150 milhões, é cerca de 10% do que fazem a China, Rússia e Índia, os outros países emergentes do Brics, que inclui agora a África do Sul.
Imagens de satélite
Apesar do futuro incerto e do atual "apagão" de satélites próprios, o país continua contando com imagens de satélite para observação da terra, como ocorre com o monitoramento do desmatamento.
George Porto Ferreira, responsável pela área no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), assegura que a situação do monitoramento "é tranquila" e "não há temor" de que faltem imagens para a "defesa do meio ambiente".
O instituto utiliza as imagens obtidas pelo INPE, que mantém cooperação com os Estados Unidos, a Europa e Índia, para fazer o monitoramento em tempo real do desmatamento e fazer avaliações consolidadas periódicas do desflorestamento. "O Inpe é um grande parceiro", defende.