Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/11/2024
Superposição de vida e morte
Mesmo que você não seja um físico, provavelmente já ouviu falar do famoso gato de Schrodinger.
O físico austríaco Erwin Schrodinger [1887-1961] idealizou o experimento mental no qual o felino pode estar vivo e morto ao mesmo para explicar o estranho fenômeno da superposição, em que uma partícula que obedeça às leis da mecânica quântica pode ter dois valores simultaneamente, apenas "decidindo-se" por um deles quando alguém faz uma medição - é por isso que o gato só sabe se está morto ou vivo quando você abre a caixa, que equivale à medição.
No experimento mental o pobre bichano pode ficar lá pela eternidade, sem que o mundo saiba se ele está vivo ou morto, mas, na prática, tudo é muito mais efêmero, com os melhores experimentos mantendo a caixa do gato fechada por frações muito pequenas de um segundo.
Mas isto agora mudou: Yang Yang e colegas da Universidade de Ciência e Tecnologia da China criaram um gato de Schrodinger que permaneceu indeciso entre a vida e a morte por impressionantes 23,3 segundos.
Isto traz o elusivo fenômeno para o campo dos interesses práticos, por exemplo, prometendo melhorar muito a sensibilidade dos sensores e dos sistemas de medição quântica - na metrologia quântica, essa "indecisão" fundamental das partículas não serve apenas como uma sonda para medir campos magnéticos, inércia e uma variedade de fenômenos físicos, mas também tem potencial para sondar novas físicas além do Modelo Padrão.
Estado gato de Schrodinger mais duradouro
Estados do tipo gato de Schrodinger baseados em alto spin - uma superposição de dois estados de spin opostos e mais distantes, com um momento angular total próximo do valor máximo - oferecem vantagens significativas para medições.
Por um lado, o alto número quântico de spin amplifica o sinal de frequência de precessão. Por outro, os estados tipo gato são insensíveis a algumas interferências ambientais, suprimindo assim o ruído da medição. No entanto, para usufruir dessas vantagens é necessário alcançar um tempo de coerência suficientemente longo, o que tem sido o principal desafio técnico nos últimos anos.
Para vencer o desafio, a equipe primeiro capturou átomos de itérbio (173Yb) com um spin de 5/2 em uma rede óptica. Controlando pulsos de laser para induzir mudanças não lineares nos estados fundamentais dos átomos, alcançou-se um estado de superposição consistindo de duas projeções de spin, +5/2 e -5/2.
Esse estado - o estado gato de Schrodinger - apresenta sensibilidade de campo magnético mais robusta e mudanças de luz idênticas na rede óptica, residindo dentro de um subespaço livre de decoerência - portanto, é um estado imune a ruído e a variações espaciais da rede.
Ainda melhor, os experimentos indicaram que o tempo de coerência desse estado de gato excedeu 20 minutos (1.4 × 103s) - se, há poucos dias, tivemos a demonstração do gato de Schrodinger mais pesado até hoje, este é largamente o gato de Schrodinger que consegue manter-se indeciso entre a vida e a morte por mais tempo até hoje.