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Meio ambiente

Plantar árvores para evitar o aquecimento global? Mesmo esta regra tem exceções

Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/11/2024

Plantar árvores no Ártico pioraria o aquecimento global, dizem cientistas
Efeitos diretos e indiretos do florestamento sobre as forças climáticas em altas latitudes e suas magnitudes relativas ao longo da vida útil de uma plantação.
[Imagem: Jeppe A. Kristensen et al. - 10.1038/s41561-024-01573-4]

Exceção à regra de plantar árvores

O plantio de árvores é amplamente reconhecido como uma forma inteligente, econômica e ambientalmente benigna de reduzir o aquecimento global, devido à capacidade das árvores de armazenar grandes quantidades de carbono da atmosfera.

Mas esta receita quase infalível não vale para todos os lugares: Por exemplo, ela não é válida para as regiões nas proximidades e dentro do Círculo Polar Ártico.

Na verdade, um grupo internacional de cientistas argumenta que o plantio de árvores em latitudes muito altas irá acelerar - em vez de desacelerar - o aquecimento global.

Quando árvores são plantadas nos lugares errados, como em regiões de tundras e pântanos normalmente sem árvores, ou usam-se espécies comerciais sobre grandes áreas de floresta boreal, que naturalmente têm copas de árvores relativamente abertas, elas podem piorar o aquecimento global.

"Os solos no Ártico armazenam mais carbono do que toda a vegetação da Terra. Esses solos são vulneráveis a perturbações, como cultivo para silvicultura ou agricultura, mas também à penetração das raízes de árvores.

"A luz do dia semicontínua durante a primavera e o início do verão, quando a neve ainda está no solo, também torna o balanço energético nesta região extremamente sensível ao escurecimento da superfície, já que as árvores verdes e marrons absorvem mais calor do Sol do que a neve branca," explicou o professor Jeppe Kristensen, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

Plantar árvores no Ártico pioraria o aquecimento global, dizem cientistas
A neve reflete a luz do Sol de volta ao espaço sem convertê-la em calor, algo conhecido como efeito albedo. As árvores nesta plantação no sul da Groenlândia reduzem o efeito albedo.
[Imagem: Mathilde le Moullec/Greenland Institute of Natural Resources]

Por que não se deve plantar árvores no Ártico?

As características únicas dos ecossistemas árticos e subárticos os tornam pouco adequados para o plantio de árvores para mitigação do clima.

E as razões são claras e encadeadas, relata a equipe:

  1. O estabelecimento da plantação perturba o solo previamente intacto, levando ao aumento da decomposição do carbono microbiano.
  2. A decomposição do carbono microbiano é exacerbada pelo aumento do isolamento do solo, causado pelo aumento da retenção de neve e redução da compactação da neve.
  3. Árvores em crescimento exalam carbono de suas raízes, acelerando a rotatividade do carbono do solo por micróbios associados às raízes.
  4. À medida que a plantação amadurece, as árvores escurecem a superfície e diminuem a proporção de energia refletida pela neve para a atmosfera.
  5. Quando uma plantação nativa é perturbada, o albedo aumenta, enquanto o carbono armazenado na biomassa diminui.

Os gases de efeito estufa são um determinante importante de quanto calor pode escapar da atmosfera do nosso planeta. No entanto, os pesquisadores afirmam que, em altas latitudes, a quantidade de luz solar refletida de volta para o espaço, sem ser convertida em calor (conhecido como efeito albedo), é mais importante do que o armazenamento de carbono para o balanço energético total.

Além disso, as regiões ao redor do Polo Norte na América do Norte, Ásia e Escandinávia são propensas a perturbações naturais - como incêndios florestais e secas - que matam a vegetação. A mudança climática torna essas perturbações mais frequentes e mais severas.

"Este é um lugar arriscado para ser uma árvore, particularmente como parte de uma plantação homogênea, que é mais vulnerável a tais perturbações," disse Kristensen. "O carbono armazenado nessas árvores corre o risco de alimentar perturbações e ser liberado de volta para a atmosfera dentro de algumas décadas."

Plantar árvores no Ártico pioraria o aquecimento global, dizem cientistas
O Impacto Climático Líquido (ICL) do plantio de árvores na região circumpolar do norte (azul=resfriamento, vermelho=aquecimento). O ICL é o armazenamento de carbono nas árvores menos o efeito de redução do albedo expresso como equivalentes de CO2 (CO2e) por unidade de área. O CO2e indica a massa de CO2 que precisaria ser emitida/extraída da atmosfera para forçar um efeito de aquecimento/resfriamento semelhante.
[Imagem: Jeffrey T. Kerby]

O que fazer então?

Os pesquisadores concluem pedindo uma visão mais holística dos ecossistemas para identificar soluções verdadeiramente significativas baseadas na natureza que não comprometam o objetivo geral, que é desacelerar as mudanças climáticas. E o plantio de árvores em altas latitudes é um excelente exemplo de uma solução climática com um efeito desejado em um contexto, mas efeito oposto em outro.

Isto não significa que as regiões de altas latitudes não possam fazer alguma coisa para ajudar a moderar o aquecimento global. Os pesquisadores sugerem que trabalhar com comunidades locais para dar suporte a populações sustentáveis de grandes herbívoros, como o caribu, pode ser uma solução viável, baseada na natureza, para atuar contra as mudanças climáticas nas regiões árticas e subárticas.

"Há ampla evidência de que grandes herbívoros afetam comunidades de plantas e condições de neve de maneiras que resultam em resfriamento líquido. Isso acontece tanto diretamente, mantendo paisagens de tundra abertas, quanto indiretamente, por meio dos efeitos da alimentação de inverno dos herbívoros, onde eles modificam a neve e diminuem sua capacidade de isolamento, reduzindo as temperaturas do solo e o degelo do subsolo congelado," explicou Marc Macias-Fauria, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Bibliografia:

Artigo: Tree planting is not an effective climate solution at high northern latitudes
Autores: Jeppe A. Kristensen, Laura Barbero-Palacios, Isabel C. Barrio, Ida B. D. Jacobsen, Jeffrey T. Kerby, Efrén López-Blanco, Yadvinder Malhi, Mathilde Le Moullec, Carsten W. Mueller, Eric Post, Katrine Raundrup, Marc Macias-Fauria
Revista: Nature Geoscience
Vol.: 17, pages 1087-1092
DOI: 10.1038/s41561-024-01573-4
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