Redação do Site Inovação Tecnológica - 05/11/2024
Marceneiro espacial
A Agência Espacial Japonesa (JAXA) e a Universidade de Quioto confirmaram a ida ao espaço do LignoSat, o primeiro satélite artificial feito de madeira.
O pequeno satélite de madeira será deixado por conta própria definitivamente no espaço nas próximas semanas, ejetado da Estação Espacial Internacional por um equipamento especial de lançamento de microssatélites, ou cubesats, instalado no laboratório Kibo da estação.
A missão do LignoSat se concentrará no comportamento da madeira no espaço. Seus instrumentos irão monitorar toda a sua estrutura, para verificar como as peças de madeira se comportam nas variações extremas de temperatura no espaço.
Como satélites na altitude em que o LignoSat ficará completam uma órbita em cerca de 90 minutos , eles estão constantemente mudando da exposição direta ao Sol, quando as temperaturas ficam em torno de 120 ºC, para a escuridão total, quando as temperaturas ficam em torno de -150 ºC.
O cubesat foi construído de magnólia, depois que experimentos na ISS mostraram que a magnólia seria ideal como madeira espacial.
Só cinzas
São dois os objetivos principais desta missão experimental.
O primeiro é demonstrar que a madeira tem seu lugar no espaço, podendo inaugurar uma era de uso de materiais renováveis na exploração espacial. A madeira tem uma resistência específica (resistência por peso) comparável a metais como o alumínio, que é comumente usado em satélites artificiais.
"No início do século 20, as aeronaves eram feitas de madeira. Ela foi substituída por alumínio e depois duralumínio. Na verdade, a madeira tem a mesma resistência por peso que o alumínio. Porém, era difícil projetar uma estrutura do tamanho de um avião devido às variações e irregularidades do material, e seu ponto fraco era que ela apodrecia, por isso foi substituída por metal. No entanto, não há água ou ar no espaço sideral. O que costumava ser um ponto fraco dos aviões de madeira no passado não é mais um ponto fraco no espaço," justificou o professor Koji Murata, o especialista em madeira que serviu como primeiro "marceneiro espacial".
O segundo objetivo se cumprirá no fim da missão do LignoSat: Em vez de se transformar em mais um pedaço de lixo espacial, ele se queimará na reentrada da atmosfera. E cinzas de madeira caindo na atmosfera são muito mais benignas do que partículas de metal caindo do céu, como as que são liberadas quando os satélites e foguetes comuns queimam ao reentrar.
Casa de madeira na Lua
"Em última análise, acho que é tudo uma questão de curiosidade, o desejo de aprender algo novo. No meu caso, o meu primeiro objetivo foi criar um satélite artificial de madeira, mas quando você faz uma experiência diferente do habitual, sempre acaba descobrindo algo novo. Foi divertido para mim trabalhar nesta experiência e poder ver a madeira de uma forma que antes não era possível na nossa área. Também parece que expandimos uma nova área de pesquisa no campo da madeira," disse o professor Murata.
Mas seu colega Takao Doi, que já trabalhou como astronauta da JAXA e agora também está na Universidade de Quioto, vê o objetivo do projeto como algo bem mais ambicioso: A longo prazo, sua ideia é construir uma casa de madeira na Lua.