Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/03/2013
Fronteira final
A sonda espacial Voyager-1 está para sair do Sistema Solar há algum tempo.
Em certo sentido, ela só não saiu definitivamente porque vem acrescentando novos territórios ao mapa espacial - seus dados vêm acrescentando um conhecimento inédito dessa região que nunca havia sido estudada pelo homem.
Assim, o que se pensava ser a fronteira final do Sistema Solar quando a sonda foi lançada mostrou-se uma região mais extensa e mais complexa do que se imaginava - nesses limites, ela descobriu, por exemplo, uma "rodovia magnética".
Agora, o assunto voltou ao debate, graças a um artigo de Frank Mcdonald (Universidade de Maryland) - falecido em dezembro do ano passado -, e William Webber (Universidade do Novo México), ambos ligados à missão.
Com base nos dados coletados pela sonda desde meados do ano passado, eles levantam a hipótese de que, desta vez, a Voyager pode ter mesmo saído do Sistema Solar.
A NASA foi categórica e prontamente contrapôs-se à hipótese.
Debate e falsas certezas
A NASA não concordou e nem endossou as conclusões dos dois pesquisadores: segundo a agência, a equipe científica da missão continua considerando que o primeiro artefato humano que deixará o Sistema Solar ainda não o fez.
Em nota, a agência norte-americana afirma que a avaliação de que a Voyager 1 já estaria fora do Sistema Solar não reflete a opinião de todos os cientistas da missão.
"A equipe da Voyager está ciente dos relatos feitos hoje que a Voyager 1 teria deixado o Sistema Solar," disse Edward Stone, cientista do projeto Voyager. "É consenso da equipe científica Voyager que a Voyager 1 ainda não saiu do Sistema Solar e nem alcançou o espaço interestelar."
Na verdade, os relatos que transformaram a hipótese em certeza foram feitos por uma pequena parte da imprensa.
Os próprios pesquisadores que publicaram o artigo não são taxativos nesse argumento: segundo eles, a Voyager 1 entrou em uma nova região, totalmente diferente da que ela vinha percorrendo nos últimos meses.
"O que nós podemos dizer é que ela está fora da heliosfera normal. Nós estamos em uma nova região. E tudo o que estamos medindo é diferente e entusiasmante," afirmam os dois em nota emitida pela União Geofísica Americana.
Prudência científica
Somente a continuação das medições feitas pela Voyager poderá marcar definitivamente a passagem da sonda para o espaço interestelar.
Como sabem bem disso, os dois autores deram ao seu texto um título excepcionalmente longo, tão inusitado e raro no meio científico quanto a região que a Voyager 1 parece estar percorrendo.
O título do artigo é: "Dados recentes da Voyager 1 indicam que, em 25 agosto de 2012, a uma distância de 121,7 UA do Sol, foram observadas mudanças bruscas e sem precedentes na intensidade dos raios cósmicos galácticos e anômalos" - sim, isto é só o título.
Os que os dados revelam é que, nas semanas anteriores a 25 de agosto, a intensidade dos raios cósmicos vinha flutuando de forma característica. A partir de então, os raios se estabilizaram - os dois cientistas chamaram o evento de "helioabismo".
Eles então levantaram a possibilidade de que a flutuação se deva à turbulência gerada pelo encontro do vento solar com as partículas vindas do espaço interestelar. Como essa turbulência cessou, a Voyager 1 poderia ter deixado o Sistema Solar.
Já Stone, o chefe da missão, tem opinião diferente: "Em dezembro de 2012, a equipe científica Voyager informou que a Voyager 1 está dentro de uma nova região chamada 'Rodovia Magnética, onde as partículas energéticas mudam dramaticamente. Uma mudança na direção do campo magnético é o último indicador crítico da chegada ao espaço interestelar, e essa mudança de direção ainda não foi observada."
Rumo ao desconhecido
A Voyager-1 foi lançada em 5 de setembro de 1977 e sua irmã gêmea, a Voyager-2, foi lançada em agosto do mesmo ano - elas estão viajando em sentidos opostos.
O objetivo inicial das duas sondas era estudar os planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, tarefa que elas completaram em 1989.
A partir, seguiram um curso que as levará rumo ao centro da Via Láctea. Como são movidas a plutônio, espera-se que elas tenham energia suficiente para decidir o longo debate, que já dura vários anos, sobre sua saída do Sistema Solar.