Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/10/2016
Fracasso na Schiaparelli
Há cada vez menos esperança de que a sonda Schiaparelli, que tentou pousar em Marte nesta quarta-feira, possa ter sobrevivido.
Embora a ESA (Agência Espacial Europeia) afirme que "os dados essenciais da sonda Schiaparelli (...) já foram transmitidos para a Terra e estão neste momento sendo analisados pelos especialistas", os dados preliminares trouxeram notícias desanimadoras.
O módulo de pouso executou a maioria das etapas da descida de 6 minutos através da atmosfera marciana, incluindo a redução de velocidade através da atmosfera e a abertura do pára-quedas e do escudo térmico.
Contudo, a liberação do pára-quedas ocorreu antes do previsto, quando aparentemente a sonda estava a uma altitude muito elevada. O passo seguinte, o acionamento dos retrofoguetes que deveriam frear a nave até cerca de dois metros do solo, funcionaram por poucos segundos, muito menos do que o previsto.
Dezenove segundos mais tarde o contato do módulo Schiaparelli com o módulo orbital ExoMars foi perdido, indicando que ele pode ter-se chocado com o solo em alta velocidade e potencialmente sido destruído. O destino parece ter sido o mesmo do Beagle-2, a última tentativa europeia de pousar em Marte, em 2003.
Os dados que a ExoMars recebeu do módulo de pouso, e que a ESA diz estar agora analisando, permitirão traçar toda a cadeia de eventos com precisão.
Sucesso na ExoMars
O incidente com o módulo de pouso, contudo, está longe de significar um fracasso da missão conjunta Europa-Rússia. O módulo Schiaparelli era um pequeno módulo de testes de tecnologias de pouso em Marte, com alguns poucos instrumentos científicos para aproveitar a viagem.
A parte essencial da missão está no módulo ExoMars, que se inseriu corretamente na órbita de Marte e agora começará sua missão científica.
A ExoMars passará a maior parte do restante deste ano se colocando em uma órbita circular a 400 km de altura acima de Marte, de onde seus equipamentos farão um levantamento detalhado dos gases atmosféricos do planeta.
O interesse central é o metano. Observações anteriores - feitas por outras sondas orbitais, telescópios na Terra e pelo robô Curiosity na superfície do planeta - identificaram a presença do hidrocarboneto em concentrações baixas, de apenas algumas partes por bilhão, mas ainda há muitas dúvidas tanto sobre essa concentração, como sobre a origem do metano.
"Temos uma esplêndida sonda em órbita de Marte pronta para a ciência e para transmitir apoio para a missão ExoMars Rover em 2020," salientou Jan Wörner, director-geral da ESA. "A principal função do Schiaparelli foi testar tecnologias europeias de aterragem. Gravar os dados durante a descida fazia parte disso, e é importante que possamos saber o que aconteceu, a fim de nos prepararmos para o futuro."
Atualização: 21/10 16h35
A sonda MRO, da NASA, que também está orbitando Marte, capturou esta imagem da área alvo de pouso do módulo Schiaparelli. Embora a resolução seja baixa, o sulco no solo é consistente com um impacto de alta velocidade. A animação mostra que a pequena cratera não estava lá na última vez que a MRO fotografou a região. A parte à direita da imagem é uma ampliação, onde se pode ver também um ponto branco na parte inferior, que seria o pára-quedas do Schiaparelli. Segundo cálculos da NASA, a sonda de 600 kg deve ter-se chocado com o solo a uma velocidade próxima dos 300 km/h, criando uma cratera de 15 x 40 metros.