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Meio ambiente

Climatologistas lançam manifesto contra a geoengenharia

Com informações do Jornal da USP - 16/02/2022

Climatologistas lançam manifesto contra a geoengenharia
A conclusão é que a geoengenharia não seria uma solução para as mudanças climáticas, seria um novo problema para o mundo.
[Imagem: University of Leeds]

Perigos da geoengenharia

Mais de 60 climatologistas de todo o mundo lançaram uma iniciativa global pedindo um acordo internacional de não-uso da geoengenharia solar.

Segundo a iniciativa, a implantação dessa tecnologia não pode ser governada de forma justa globalmente e representa um risco se implementada como uma futura opção de política climática.

A versão mais defendida hoje, dentro do próprio mundo acadêmico, seria a pulverização massiva de aerossóis na estratosfera, para bloquear uma parte da luz solar e, teoricamente, reduzir a temperatura do planeta.

Contudo, vários estudos e simulações têm mostrado que a geoengenharia não é solução para o aquecimento global e que, além de piorar o clima, não poderia ser interrompida.

Natureza em movimento

A ideia inicial da geoengenharia pode até parece boa quando considerada rapidamente, de uma forma simplista.

"Quando você injeta um monte de partículas na estratosfera, é como se você criasse um pequeno cobertor em cima de nossa cabeça, e aí os raios solares, quando tentam passar pela atmosfera para aquecer o nosso planeta, parte deles pode ser refletida para o espaço e, portanto, você estaria diminuindo energia solar que aquece o nosso planeta," comenta o professor Tércio Ambrizzi, da USP. "Primeiramente pode se pensar: 'Então, calma aí, a gente tá falando do aquecimento do nosso planeta, do aquecimento global, se a gente diminuir a entrada dos raios solares então a gente pode diminuir esse aquecimento'."

Esta é a ideia que os cientistas idealizadores e defensores da geoengenharia defendem e que o professor Tércio contesta. E constesta porque as coisas não são tão simples.

Por exemplo, na atmosfera há a circulação de ventos, que nossa tecnologia não consegue controlar e que impediriam que esse "cobertor" de partículas se mantivesse homogêneo ou estacionário.

"Se você injetar esses aerossóis lá em cima, você não vai mantê-los parados lá, vão ficar circulando. E aí é que mora o perigo, porque numa região pode entrar até menos energia solar e deixar de aquecer, mas em outra pode aquecer muito mais até. O Brasil, por exemplo, pode esfriar muito mais que outros países, e esse esfriamento não dá para controlar também," explicou Tércio.

Já sabemos o que fazer

O prejuízo para a agricultura seria apenas o efeito mais óbvio, mas estudos já detalharam que a geoengenharia climática afetaria sobretudo os países mais pobres.

Diante disso, o grupo de climatologistas defende que qualquer ação exigiria muita pesquisa prévia e, principalmente, pede que se evitem experimentos que possam afetar vários países.

Isso não significa ficar parado ante os desafios das mudanças climáticas, uma vez que podemos atuar no sentido de mitigar a emissão dos gases de efeito estufa.

"Portanto, nós já temos ações e tecnologia para diminuir a emissão desses gases, que são os verdadeiros culpados pelo aumento de temperatura do nosso planeta. Isso vai fazer com que haja a diminuição de gases sem necessitar da adoção de uma tecnologia de alto risco. Nós não precisamos ter algo artificial (geoengenharia solar), sobre o qual não se tem um completo controle e conhecimento," concluiu Tércio.

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