Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/04/2023
Água marciana recente
O rover chinês Zhurong encontrou evidências de água em estado líquido atuando na superfície das dunas no planeta Marte moderno, fornecendo provas observacionais importantes de água líquida em baixas latitudes marcianas em tempos relativamente recentes - observe que "Marte moderno" é diferente de "Marte de hoje".
O rover Zhurong faz parte da missão Tianwen-1, que pousou em Marte em 15 de maio de 2021 na borda sul da Planície Utopia Planitia.
Missões anteriores forneceram provas de uma grande quantidade de água líquida no início da história de Marte, bilhões de anos atrás; mas, com a perda da atmosfera marciana durante o período posterior, o clima mudou drasticamente. A pressão muito baixa e o teor de vapor d'água dificultam a existência sustentável de água líquida em Marte hoje. Assim, acredita-se amplamente que a água só possa existir lá em formas sólidas ou gasosas.
No entanto, gotículas observadas no braço robótico da sonda estacionária Phoenix, que pousou no Pólo Norte do planeta, provam que água líquida salgada pode aparecer no verão nas altas latitudes atuais de Marte. Simulações numéricas também mostraram que condições climáticas adequadas para água líquida podem ocorrer brevemente em certas áreas de Marte hoje. Até agora, porém, nenhuma evidência havia mostrado a presença de água líquida em baixas latitudes em Marte.
Agora, as observações do rover Zhurong preenchem essa lacuna, mostrando que a água pode ter representado um elemento importante no último milhão de anos da história de Marte.
Minerais hidratados
Os instrumentos científicos do robô encontraram algumas características morfológicas nas superfícies das dunas, como crostas, rachaduras, granulação, cristas poligonais e um traço em forma de faixa.
"A idade estimada das dunas (de 400 mil a 1,4 milhão de anos) e a relação entre as três fases da água sugerem que a transferência de vapor d'água da camada de gelo polar em direção ao equador durante os grandes estágios de obliquidade do final do período amazônico de Marte levou a repetidos ambientes úmidos em baixas latitudes," propõe a equipe.
De fato, a análise dos dados espectrais revelou que a camada superficial da duna é rica em sulfatos hidratados, sílica hidratada (especialmente opala-CT), minerais trivalentes de óxido de ferro (especialmente ferridrita) e possivelmente cloretos.
"De acordo com os dados meteorológicos medidos pelo Zhurong e outros rovers de Marte, inferimos que essas características da superfície das dunas estavam relacionadas ao envolvimento de água salina líquida formada pelo subsequente derretimento da geada/neve caindo nas superfícies das dunas contendo sal quando ocorre o resfriamento," disse o professor Xiaoguang Qin, coordenador do estudo.
Ciclo da água em Marte
Baseando-se nessas análises, os pesquisadores propõem um cenário de atividade da água em Marte: O resfriamento em baixas latitudes durante os grandes estágios de obliquidade de Marte leva à queda de geada/neve, resultando na formação de crostas e agregados na superfície salgada da duna, solidificando as dunas e deixando os vestígios da atividade de água salina líquida detectados agora.
Especificamente, os sais nas dunas fazem com que o gelo/neve derreta em baixas temperaturas para formar água líquida salgada. Quando a água salgada seca, o sulfato hidratado precipitado, opala, óxido de ferro e outros minerais hidratados cimentam as partículas de areia para formar agregados de areia e até uma crosta. Então a crosta é ainda mais rachada por encolhimento. O processo posterior de derretimento da geada/neve forma ainda sulcos poligonais e um traço semelhante a uma faixa na superfície da crosta.
"Isso é importante para entender a história evolutiva do clima marciano, para procurar por um ambiente habitável e pode fornecer pistas importantes para a futura busca por vida," disse o Prof. Qin.