Redação do Site Inovação Tecnológica - 08/10/2020
Diamantes formados sob baixa pressão
Duas descobertas simultâneas envolvendo os diamantes podem ser o marco de uma verdadeira revolução na geologia, uma área normalmente associada à paciência do chamado "tempo geológico", em que as coisas parecem acontecer em câmera lenta.
Todos os livros-texto dizem que os diamantes formam-se nas altíssimas pressões e temperaturas das zonas profundas do interior da Terra, sendo trazidos à superfície através de estruturas tipo vulcânicas chamadas quimberlitos.
Mas Núria Pujol-Solà e seus colegas da Universidade de Barcelona, na Espanha, descobriram diamantes naturais formados sob baixa pressão e baixa temperatura em rochas oceânicas.
Muito distante do ambiente clássico de ultra-alta pressão, os diamantes se formaram nas rochas oceânicas de baixa pressão encontradas no Maciço Ofiolítico Moa-Baracoa, em Cuba.
Esta grande estrutura geológica encontra-se no lado nordeste da ilha e é formada por ofiolitos, rochas representativas da litosfera oceânica. Essas rochas oceânicas foram levadas à borda continental da América do Norte durante a colisão do arco da ilha oceânica do Caribe, entre 70 e 40 milhões de anos atrás.
"Durante sua formação nos fundos marinhos abissais, no período Cretáceo - cerca de 120 milhões de anos atrás -, essas rochas oceânicas sofreram alterações minerais devido às infiltrações da água do mar, processo que levou a pequenas inclusões fluidas no interior da olivina, o mineral mais comum neste tipo de rocha," explicou o professor Joaquín Proenza, líder da equipe.
Os nanodiamantes - medindo entre 200 e 300 nanômetros de diâmetro - estão justamente nessas inclusões fluidas, juntamente com os minerais serpentinito e magnetita, além de silício metálico e gás metano.
"Todos esses materiais se formaram sob baixa pressão (<200 MPa) e temperatura (<350 ºC), durante a alteração da olivina que contém inclusões fluidas," escreveu a equipe. "Portanto, esta é a primeira descrição de diamante ofiolítico formado a baixa pressão e temperatura, cuja formação sob processos naturais não deixa dúvidas."
Diamantes junto com ouro
Se você quisesse ficar rico rapidamente, provavelmente pensaria em ganhar na loteria ou achar uma mina de diamantes e ouro.
Mais fácil ganhar na loteria, diriam os geólogos, porque os minerais que contêm ouro e diamante são formados por processos geológicos muito diferentes, o que faz com que os dois não ocorram juntos.
Bom, assim diriam os geólogos até agora, porque uma equipe internacional acaba de encontrar diamantes em um afloramento sobre um depósito de ouro não explorado no Canadá.
"Os diamantes que encontramos até agora são pequenos e não econômicos, mas ocorrem em sedimentos antigos que são um análogo exato do maior depósito de ouro do mundo - os Campos de Ouro Witwatersrand da África do Sul, que produziram mais de 40 por cento do ouro já minerado na Terra," disse o professor Graham Pearson, da Universidade de Alberta.
"Diamantes e ouro são companheiros de cama muito estranhos. Eles quase nunca aparecem na mesma rocha, então esta nova descoberta pode ajudar a adoçar a atratividade da descoberta de ouro original se pudermos encontrar mais diamantes," completou.
Na verdade, as gemas e o metal nobre não tiveram a mesma origem. Eles estão em rochas muito antigas - mais de 3 bilhões de anos - conhecidas como conglomerados, que são basicamente o produto da erosão de antigas cadeias de montanhas que se depositam em canais de rios. E, tanto o ouro quanto o diamante, por serem pesados, depositam-se nos leitos dos rios. Com o passar do tempo, as rochas voltaram a se aglomerar, juntando os dois parceiros tão valiosos.
Embora os diamantes encontrados sejam bem pequenos - menos de um milímetro de diâmetro - as implicações geológicas são imensas. Por exemplo, devem ter existido quimberlitos para trazer os diamantes para a superfície no passado muito mais longíquo da Terra do que se acreditava.
Uma hipótese que a equipe levanta é que os diamantes podem ser derivados de uma raiz litosférica pequena e profunda, mas fria, que é a parte mais espessa da placa continental. "Isso é algo completamente inesperado de como pensamos que as condições eram há três bilhões de anos na Terra," disse Pearson.