Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/04/2023
Fosfato no fulgurito
Quando um raio atinge uma árvore - além de fazer a árvore explodir, queimar ou simplesmente cair -, ao viajar até o solo a descarga elétrica atinge o solo, areia e rochas ao redor, eventualmente formando um mineral chamado fulgurito, que os especialistas também chamam de "raio fossilizado".
Isso aconteceu em 2012 na cidadezinha de New Port Richey, no estado norte-americano da Flórida, e os moradores resolveram vender as pequenas pedras.
Por sorte, quem as comprou foi o geólogo Matthew Pasek, professor da Universidade Sul da Flórida. Ele então se juntou ao seu colega astroquímico Tian Feng e ao mineralogista Luca Bindi (Universidade de Florença, na Itália), para estudar as pedras.
O resultado não poderia ser mais inesperado: No meio do fulgurito, o trio encontrou um novo material à base de fósforo que nunca havia sido encontrado na Terra antes.
"Nós nunca vimos esse material ocorrer naturalmente na Terra - minerais semelhantes a ele podem ser encontrados em meteoritos e no espaço, mas nunca vimos esse material exato em nenhum lugar," contou Pasek.
O mineral, um fosfato de cálcio, de fórmula CaHPO3, pode assim se tornar o primeiro membro de um novo grupo mineral.
Fosfato espacial
Em ambientes úmidos, como na Flórida, o ferro geralmente se acumula e incrusta nas raízes das árvores. Neste caso, o raio não apenas queimou o ferro nas raízes da árvore, mas também queimou o carbono que ocorre naturalmente na madeira. Os dois elementos geraram uma reação química que criou um fulgurito que parecia uma meleca endurecida.
O material inédito estava lá dentro, na forma de minúsculas esférulas.
Em termos práticos, ele não é muito diferente dos fosfatos minerados aqui na Terra para serem usados como fertilizantes, mas sua composição revela que as condições em que ele se forma são muito específicas, tipicamente envolvendo uma quantidade de energia gigantesca e uma composição do solo muito precisa.
De fato, a equipe tentou refazer o material em laboratório, mas os experimentos não tiveram êxito, indicando que o material provavelmente se forma rapidamente e sob condições precisas - se aquecido por muito tempo, por exemplo, ele se transforma no mineral encontrado nos meteoritos.
"Pesquisas anteriores indicam que a redução de fosfato por raios foi um fenômeno generalizado na Terra primitiva," disse Feng.
A equipe planeja continuar estudando o material, para determinar se ele pode ser oficialmente declarado um mineral. Vale lembrar que o primeiro quasicristal formado naturalmente na Terra também foi encontrado em um fulgurito, igualmente formado por uma descarga atmosférica.