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Meio ambiente

Pontos de inflexão climáticos podem nem sempre ser desastrosos

Redação do Site Inovação Tecnológica - 18/04/2022

Pontos de inflexão climáticos podem nem sempre ser desastrosos
Passar por um ponto de inflexão é menos crítico no lago grande do que no pequeno. O novo modelo revela que será assim em muitos sistemas climáticos grandes e heterogêneos.
[Imagem: TiPES/HP]

Pontos de inflexão

Nas notícias envolvendo o clima, o aquecimento global e as mudanças climáticas, há sempre referências sobre os "pontos de inflexão", algumas vezes chamados de "pontos sem volta".

E, mesmo na maioria dos trabalhos científicos sobre o sistema da Terra, os cientistas assumem que a inflexão leva a mudanças catastróficas e irreversíveis para todo o sistema.

Mas um grupo de pesquisadores da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, afirma que essa visão é baseada em modelagens muito simplistas.

Para levar tudo em conta, a equipe fez uma análise matemática dos pontos de inflexão em grandes sistemas espacialmente heterogêneos, que é a característica básica de sistemas naturais como mantos de gelo, lagos e florestas.

A conclusão é que as consequências de cruzar um ponto de inflexão podem ser muito mais sutis e menos severas do que geralmente se supõe.

O mundo real é heterogêneo

Segundo os pesquisadores, quando a heterogeneidade espacial é adicionada às simulações, o nível de gravidade de se atingir um ponto de inflexão parece depender fortemente do tamanho e da biodiversidade do sistema. Isso significa que, em sistemas grandes e heterogêneos, a inflexão pode muitas vezes levar a mudanças menores, graduais e até reversíveis.

Muitos subsistemas climáticos, como os sistemas de correntes oceânicas, mantos de gelo e grandes biótopos, como as florestas tropicais, são de fato grandes e espacialmente heterogêneos.

Pontos de inflexão climáticos podem nem sempre ser desastrosos
Calcular a quantidade de energia renovável disponível na Terra é importante para sabermos onde está o ponto de inflexão, seja ele grave ou não.
[Imagem: NASA]

A equipe ilustra seus resultados comparando dois lagos de diferentes tamanhos. Em uma lagoa pequena, há pouca variação (pouca heterogeneidade) dentro do sistema e, consequentemente, a poluição por nutrientes pode induzir a inflexão, na qual o crescimento excessivo de algas torna toda a lagoa turva. Em um lago maior, no entanto, a inflexão pode não envolver todo o lago; partes do lago podem evitar a turbidez devido ao tamanho do sistema, o que o torna mais heterogêneo.

Passar por um ponto de inflexão é, portanto, menos crítico no lago grande do que no pequeno.

De fato, a heterogeneidade também torna a inflexão mais facilmente reversível no sistema grande. Em lagos pequenos, a restauração por meio de uma melhoria do equilíbrio de nutrientes é muitas vezes muito difícil uma vez que o sistema fique preso em um estado turvo. Em lagos maiores, no entanto, mesmo a remoção de pequenas quantidades de nutrientes pode levar imediatamente a uma expansão das partes claras do lago.

Além disso, como as espécies podem sobreviver nas partes claras do lago e depois rehabitar as áreas turvas, uma vez que elas podem clarear novamente, o impacto da inflexão no ecossistema pode ser muito menos severo se partes do sistema mantiverem seu estado original.

Preocupações mantidas

No geral, a conclusão do estudo é que o que vem após a travessia de um ponto de inflexão climático ainda é uma questão em aberto, e não uma tragédia certa.

Como é padrão nesse tipo de estudo, contudo, a equipe se esmera em explicar que isso não deve ser motivo para qualquer relaxamento nos cuidados com o ambiente e nas mudanças de atitude para evitar o pior para a humanidade.

"Eu continuo preocupado com os pontos de inflexão. Porque posso imaginar que coisas críticas podem acontecer, especialmente se as mudanças climáticas persistirem. Mas eu não sou tão preocupado de que, uma vez que cruzemos um ponto de inflexão, tudo vai virar um inferno imediatamente. Eu acredito que vai ser muito mais sutil do que o tipo de narrativa que foi pintada em alguns artigos sobre as fronteiras planetárias: Que uma vez que cruzamos um ponto de inflexão, tudo desmorona simultaneamente. Não acho que seja esse o caso," concluiu o professor Robbin Bastiaansen, coordenador do estudo.

Bibliografia:

Artigo: Fragmented tipping in a spatially heterogeneous world
Autores: Robbin Bastiaansen, Henk A. Dijkstra, Anna S. von der Heydt
Revista: Environmental Research Letters
Vol.: 17, Number 4
DOI: 10.1088/1748-9326/ac59a8
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