Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/04/2025
Poluentes invisíveis
Sempre que ouvimos falar em poluição, as imagens mais usadas são chaminés industriais ou canos de escapamento de veículos, tipicamente soltando grossas nuvens de fumaça.
Mas as fontes da poluição que atinge nossos pulmões podem ser muito mais discretas - na verdade, elas podem ser totalmente imperceptíveis.
As fontes originais continuam sendo as emissões antropogênicas, as tradicionais emissões contendo particulados de carbono. Mas Mao Xiao e colegas do Instituto Paul Scherrer, na Suíça, descobriram que os poluentes que chegam até nós frequentemente se formam somente após várias etapas de oxidação.
Isso indica que a poluição com material particulado tem um alcance espacial maior do que se supunha anteriormente. "Esta descoberta desafia a suposição anterior de que os poluentes se formam principalmente perto das fontes de emissão," disse Imad El Haddad, líder do projeto. "Em vez disso, [nossos resultados] mostram que os aerossóis antropogênicos passam por um processo de formação mais longo, pelo qual seus impactos se estendem regionalmente."
A conclusão mais importante é que não é suficiente simplesmente reduzir as emissões diretas de fábricas, casas e veículos, por exemplo usando filtros de material particulado. Em vez disso, os gases precursores dos quais os aerossóis orgânicos prejudiciais se formam posteriormente também devem ser controlados.
Formação dos aerossóis
Até agora, os cientistas acreditavam que os aerossóis orgânicos se formassem por meio de uma única etapa de oxidação. Gases precursores naturais, como terpenos e isopreno - hidrocarbonetos emitidos por plantas - adicionam oxigênio rapidamente e, portanto, formam diretamente partículas sólidas transportadas pelo ar.
No entanto, os novos dados, obtidos por meio de medições com precisão inédita realizadas em uma câmara de simulação no CERN, revelam que as emissões antropogênicas se comportam de forma diferente. Mais de 70 pesquisadores de vários países colaboraram para simular a poluição do ar urbano e rastrear a formação de aerossóis orgânicos.
O laboratório consiste na câmara de simulação atmosférica mais limpa do mundo e permite que os pesquisadores controlem parâmetros como temperatura e pressão com extrema precisão - a temperatura em aproximadamente um décimo de grau. Seu cilindro de aço inoxidável tem capacidade para aproximadamente 26 metros cúbicos. Sensores de alta precisão garantem que as mudanças dentro do cilindro possam ser observadas com precisão de segundos. Para seus experimentos, os pesquisadores encheram a câmara com uma mistura de gases semelhante à poluição urbana para rastrear a transformação de gases de exaustão em aerossóis orgânicos, e então mediram o que acontecia dia e noite.
As observações mostraram que gases precursores, como tolueno e benzeno do escapamento de automóveis e da combustão de material orgânico, passam por várias etapas de oxidação antes de formar partículas sólidas.
Só filtros não adianta
A conclusão principal é que uma proporção significativa de aerossóis orgânicos antropogênicos não se forma após a oxidação inicial, mas somente após etapas de oxidação adicionais, que podem levar entre seis horas e dois dias. A equipe de pesquisa estima que essa oxidação em várias etapas é responsável por mais de 70% da poluição total de aerossóis orgânicos antropogênicos.
"Graças às observações precisas, agora podemos entender melhor como os aerossóis antropogênicos se formam e crescem no ar," disse Haddad.
Em termos práticos, este novo conhecimento revela a importância de controlar não apenas a emissão direta de material particulado, por meio de filtros de partículas, por exemplo, mas também a emissão de gases precursores, que posteriormente formam partículas sólidas. Isso poderá ajudar a combater a poluição do ar de forma mais eficaz e, assim, melhorar a saúde pública.
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |