Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/04/2024
Sauron do bem
Imagine um cenário de desastre ambiental: Em uma instalação industrial, um cano estoura, espalhando pelo ar uma nuvem de minúsculas gotículas de um produto químico perigoso.
Hoje, além dos danos mais imediatos que transcorrem antes que as equipes de socorro cheguem, um desfecho bastante provável será uma evacuação em larga escala das populações no entorno. Nos dias que se seguirão, porém, o ideal seria que a nuvem pudesse ser monitorada, para evitar novos problemas e ajudando a alertar as populações das novas áreas atingidas.
É isto justamente o que estão vislumbrando Greg Rieker e Scott Diddams, da Universidade do Colorado, nos EUA.
A dupla está liderando o desenvolvimento de um dispositivo a laser, que não deverá ser maior do que uma mala de viagem, que detecta a nuvem e informa às equipes de segurança o que há nela, permitindo traçar procedimentos e apontar quais providências precisam ser tomadas.
O projeto foi batizado de Sauron, o vilão da série "O Senhor dos Anéis", uma presença que muitas vezes assume a forma de um olho flamejante e cujo "olhar perfura nuvens, sombras e a terra". "Esta é a ideia aqui: Um olho que tudo vê, que pode detectar aerossóis perigosos contra um fundo muito denso de outras substâncias," justificou Rieker.
Mas o nome também é uma sigla para o termo em inglês Rede Óptica Remota Independente de Medição de Aerossóis (Standoff Aerosol MeasUrement Remote Optical Network).
Rastreamento de químicos no ar
Aerossol é o termo que designa uma ampla gama de pequenas partículas que flutuam no ar, tipicamente catalogadas por tamanho, mas cuja composição pode determinar se precisamos agir ou simplesmente esperar que elas se dispersem.
Alguns aerossóis podem conter compostos químicos que representam sérios riscos para os seres humanos, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. O nitrato de amônio, ingrediente comum em explosivos, também forma aerossóis. O mesmo pode acontecer com o fentanil, um medicamento opioide que pode ser mortal, mesmo em pequenas quantidades.
Para detectar tais perigos, a equipe lançou mão de uma tecnologia que ganhou o Prêmio Nobel do ano passado, chamada laser de pente de frequência e que recentemente foi miniaturizada e posta dentro de um chip.
Ao contrário dos lasers tradicionais, os lasers de pente de frequência emitem um feixe de luz com milhões de cores, tudo ao mesmo tempo. Quando essa luz é disparada através de um ambiente, ela pode funcionar como um scanner de impressões digitais para aerossóis, coletando sinais de concentrações mínimas de partículas ou gases no ar, por meio de uma técnica chamado espectroscopia.
O esforço agora é deixar tudo mais compacto, para viabilizar o uso prático da tecnologia. "Os lasers funcionarão com baterias, então você poderá implantá-los em um aeroporto, em quarteirões da cidade ou em locais industriais onde se utilizam materiais perigosos," disse Diddams. "Logo de cara, as pessoas saberão quando houver uma falha ou um vazamento."