Alicia Nascimento Aguiar - Agência USP - 20/11/2009
Acaba de ser publicada a revisão dos dados sobre as emissões de gases do efeito estufa pela agricultura e pela pecuária no Brasil.
Segundo o documento, a pecuária é o setor que merece maior atenção, pois ela tem um papel muito importante nas emissões do território brasileiro.
A revisão foi feita por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, sob a coordenação do professor Carlos Clemente Cerri.
Fontes de emissão
Os novos dados apresentam os resultados de cálculos feitos com base em cinco fontes de emissão - energia, processos industriais, agricultura, mudança de uso da terra e resíduos - bem como de suas sub fontes, com muito detalhamento, além de oferecer um quadro inédito de emissões do Brasil.
A revisão vem ao encontro da determinação definida pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, de reduzir a emissão de gases do efeito estufa (GEE) para a atmosfera e realizar inventários periódicos sobre o assunto.
O Brasil efetuou os cálculos de emissão de GEE e os publicou, em 2004, como a primeira Comunicação Nacional do País. No entanto, os únicos dados oficiais existentes na época, referiam-se ao período 1990-1994. Neste documento foi relatado que o país é um dos maiores emissores de GEE do mundo e isto ocorre, em grande parte, por causa do desmatamento, principalmente do bioma Amazônia, para dar lugar à agricultura e pecuária.
Metano e óxido nitroso emitidos pelos bois
"A taxa de desmatamento no Brasil está diminuindo e vai decrescer naturalmente porque sua maior causa é a pecuária, criação de pastagens e as consequentes emissões provocadas pelo gado. O gado consome o capim, que vai para o rúmen, onde é fermentado e, nesse processo, há emissão de metano pela eructação e pelas fezes, e também de óxido nitroso, pela decomposição da urina no solo," explica Cerri.
"Tudo isso parece folclórico, mas é importante, porque o metano e o óxido nitroso são gases que têm alto potencial para aquecer a atmosfera terrestre vinte e trezentas vezes maiores do que o gás carbônico. Assim, nosso estudo aponta maneiras de se trabalhar com uma pecuária mais tecnificada para melhor aproveitamento das áreas atuais sob pastagens e, em consequência, reduzir as emissões pelo setor", diz.
Equivalente de CO2
De acordo com o pesquisador, "quando os três gases do efeito estufa são convertidos em uma única unidade denominada de 'equivalente em CO2', percebe-se que a taxa de emissão de gases do desmatamento aumentou 8,1% entre 1994 e 2005, porém essa taxa foi menor do que aquela produzida pela fermentação entérica dos ruminantes, que teve aumento de 13%".
Ele comenta ainda que as entidades governamentais e a sociedade estão fiscalizando as áreas e que essas iniciativas estão fazendo com que o desmatamento seja reduzido.
"Hoje, a ocupação média no Brasil é de 0,9 cabeças de gado por hectare. O Brasil precisa, nos próximos dez anos, de 20 milhões de hectares para acomodar as expectativas de expansão na produção de alimentos, fibras e biocombustíveis para suprir as necessidades internas e exportar", aponta.
"Precisamos produzir mais soja, milho, arroz, trigo, algodão, cana-de-açúcar e oleaginosas para biocombustível; mais reflorestamento com silvicultura com eucalipto, pinus e outras essências e isso dá, mais ou menos, 20 milhões de hectares e nós não podemos desmatar. O grande desafio é proceder essa expansão sem novos desmatamentos e isso é perfeitamente possível adotando um planejamento estratégico adequado nas áreas já ocupadas pela agricultura e pecuária".
Tecnologias já disponíveis
Para chegar a essa ocupação racional e sustentável das áreas agrícolas disponíveis, o Brasil já dispõe de tecnologias inovadoras, algumas delas apontadas no documento que acaba de ser publicado.
De acordo com os cientistas, é possível trabalhar na recuperação da pastagem degradada, no melhoramento genético animal, no confinamento, na adoção da integração lavoura-pecuária e tudo isso pode ser feito numa área menor, com maior produtividade, liberando espaço para expansão agrícola necessária, porém sem nenhum desmatamento.
"Isso faz com que o tempo de vida do animal seja reduzido. Ao invés de permanecer três anos e meio no campo, é possível reduzir o tempo para o abate com mesmo peso, porém com menor emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global", destaca o pesquisador.