Com informações da BBC - 24/04/2017
Montanha de terras raras
Em uma montanha submarina, nas águas do Oceano Atlântico, está um tesouro em minerais de alto valor econômico - os chamados minerais de terras raras.
Uma equipe do Centro Nacional de Oceanografia (NOC, na sigla em inglês) do Reino Unido identificou uma crosta de rochas extremamente rica nesses minerais raros nas paredes desse monte, a 500 quilômetros das Ilhas Canárias.
Amostras trazidas à superfície detectaram a presença de uma substância rara conhecida como telúrio em concentrações 50 mil vezes mais elevadas que as já identificadas em terra. O telúrio, comum em ligas metálicas, é usado também em um tipo avançado de painel solar.
A montanha também contém minerais de terras-raras usados na fabricação de turbinas eólicas e em dispositivos eletrônicos.
A descoberta levanta uma questão delicada: se a busca por recursos alternativos de energia pode impulsionar a exploração mineral no fundo do mar.
Riqueza inesperada
O monte submarino, cujo nome é Tropic, tem três mil metros de altitude a partir do solo oceânico e seu cume fica a 1 mil metros acima da superfície do Atlântico.
Robôs submarinos foram usados para investigar a crosta de grãos finos que cobre toda a superfície da montanha e tem espessura de quatro centímetros.
Bram Murton, líder da expedição que explora a Tropic, afirmou que esperava encontrar minerais em abundância no local, mas jamais imaginou que as concentrações dos mesmos seriam tão elevadas.
"Esta crosta é incrivelmente rica e é isso que faz com que essas rochas sejam incrivelmente especiais e valiosas do ponto de vista de recursos", explicou. Ele calcula que as 2.670 toneladas de telúrio da montanha equivalem a um duodécimo de todo o consumo mundial.
Mineração submarina
A prática da mineração no mar foi recentemente regulamentada pela ONU. Ainda assim, Burton afirma querer que a descoberta de sua equipe - parte de um projeto mais amplo chamado Marine E-Tech - provoque um debate sobre de onde devem vir os recursos vitais.
"Se precisamos de energia verde, precisamos de materiais para construir dispositivos capazes de gerar esse tipo de energia. E esses materiais têm de vir de algum lugar", disse. "Ou os tiramos da terra e fazemos um buraco lá, ou os tiramos do fundo do mar e fazemos ali um buraco comparativamente menor. Tudo o que fazemos tem um custo".
De forma geral, a mineração em terra implica em desmatar, remanejar povoados e construir vias de acesso para remover rochas com concentrações relativamente baixas de minerais (ou de minério).
No mar, por sua vez, os minérios são muito mais ricos, ocupam uma área menor e não existe impacto imediato sobre populações. Uma das principais preocupações é o efeito da poeira produzida ao se cavar o fundo do mar, que pode viajar longas distâncias e afetar organismos vivos pelo caminho.
Para entender as possíveis implicações, a expedição britânica realizou um experimento no qual tentou reproduzir os efeitos da mineração para medir a quantidade de pó produzido.
Os resultados preliminares, disse Murton, mostram que a poeira não é facilmente detectada a um quilômetro de distância além da fonte. Isso indica que o impacto da mineração submarina poderia ser mais localizado do que o inicialmente previsto.