Redação do Site Inovação Tecnológica - 24/09/2009
Identificar e quantificar os limites da Terra que não podem ser transgredidos ajudaria a evitar que as atividades humanas continuassem causando mudanças ambientais inaceitáveis. A afirmação, de um grupo internacional de cientistas, está em artigo destacado na edição desta quinta-feira (24/9) da revista Nature.
Segundo eles, a humanidade deve permanecer dentro dessas fronteiras para os processos essenciais do sistema terrestre se quiser evitar alterações ambientais de dimensões catastróficas. Esses limites representariam os espaços seguros para a ação e para a vida humana.
Limites planetários
O conceito de limites (ou fronteiras) planetários representa um novo modelo para medir as agressões ao planeta e define espaços seguros para a existência humana. Seguros para o sistema terrestre e, por consequência, para o próprio homem.
Os pesquisadores sugerem nove processos sistêmicos principais para esses limites: mudanças climáticas; acidificação dos oceanos; interferência nos ciclos globais de nitrogênio e de fósforo; uso de água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis atmosféricos; poluição química; e a taxa de perda da biodiversidade, tanto terrestre como marinha.
Para três desses limites da ação humana - ciclo do nitrogênio, perda da biodiversidade e mudanças climáticas -, os autores do artigo argumentam que a fronteira aceitável já pode ter sido ultrapassada. Afirmam também que a humanidade está rapidamente se aproximando dos limites no uso de água, na conversão de florestas e de outros ecossistemas naturais para uso agropecuário, na acidificação oceânica e no ciclo de fósforo.
Limites do estudo
Um editorial da revista Nature, que acompanha a reportagem, é muito menos catastrófico e coloca vários limites à análise oferecida pelo grupo de cientistas, coordenados por Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo, na Suécia.
O estudo dá números para esses limites "de forma provocativa", segundo o editorial.
"O exercício requer muitas qualificações. Em sua maior parte, os valores exatos escolhidos como limites por Rockström e seus colegas são arbitrários. Assim são também, em alguns casos, os indicadores de mudança. Há ainda pouca evidência científica para sugerir que a estabilização das concentrações de dióxido de carbono a longo prazo em 350 partes por milhão seja o alvo certo para evitar uma interferência perigosa no sistema climático. [...] Também não existe um consenso sobre a necessidade de limitar as extinções de espécies em dez vezes a taxa de referência, como está sendo aconselhado."
"Além disso, as fronteiras propostas nem sempre se aplicam globalmente, mesmo para os processos que regulam o planeta inteiro. Circunstâncias locais podem, em última instância, determinar quanto tempo a escassez de água ou a perda de biodiversidade atingirão limites críticos," afirma a revista.
Chamando a ciência apresentada no artigo como "preliminar," o editorial prossegue afirmando que a imposição de limites ditos "aceitáveis" esbarra muito mais nas questões éticas do que nas puramente ambientais. Por exemplo, se a interferência humana no ciclo de nitrogênio pode ter efeitos danosos de longo prazo, essa manipulação foi, e continua sendo, a grande responsável pela alimentação de grandes partes da humanidade.
Toda a discussão da proposta de estabelecimento de limites pode ser acompanhado no site da Nature (em inglês), no endereço http://tinyurl.com/planetboundaries.