Karin Backteman - 23/10/2012
Fadadas ao fracasso
Negociações climáticas baseadas em limites "ameaçadores" para evitar catástrofes no futuro não terão sucesso, afirmam um estudo recém-publicado na revista científica Pnas.
O suposto limiar crítico das mudanças climáticas, que afirma que o aumento da temperatura global deve ficar abaixo de 2 graus Celsius, parece não ter ajudado as negociações climáticas até agora.
E o estudo sobre o tema mostra que as negociações com base em limites desse tipo vão falhar porque o seu valor é determinado pela natureza, sendo inerentemente incerto.
Assim, os negociadores dos acordos sobre o clima precisam se concentrar em outras estratégias coletivas.
Incerteza irredutível
Astrid Dannenberg (Universidade de Gotemburgo - Alemanha) e Scott Barrett (Universidade de Colúmbia - EUA) explicam o paradoxo de porque os países concordam com um objetivo coletivo visando reduzir o risco de uma catástrofe climática, mas agem como se fossem cegos para este risco.
Se o limiar crítico para uma catástrofe climática pudesse ser identificado com "certeza científica", a pesquisa sugere que os países muito provavelmente iriam propor uma meta coletiva precisa para evitar a catástrofe, comprometer-se-iam a contribuir com a sua quota-parte para o esforço global, e agiriam de modo a cumprir suas promessas.
No entanto, se há "incerteza científica" sobre o limite das mudanças climáticas, os países são muito mais propensos a fazer menos coletivamente do que é necessário para evitar uma catástrofe.
Dannenberg e Barrett, que fornecem indícios experimentais baseados em um novo quadro analítico, mostram que o fracasso das negociações é praticamente certa, porque o limite do clima é determinado pela natureza, e a incerteza sobre o seu valor é essencialmente irredutível.
Restrições de comércio ou de tecnologia
"Negociações climáticas são mais complexas que o jogo jogado pelos participantes em nosso experimento. O problema básico do incentivo, no entanto, é o mesmo, e nossa pesquisa mostra que a 'incerteza científica' sobre o limite perigoso [das mudanças climáticas] muda dramaticamente o comportamento," diz Dannenberg.
A pesquisa pode explicar porque as negociações climáticas da ONU têm sido focadas em torno de esforços para a limitação da elevação da temperatura média global a 2 graus Celsius, e porque os negociadores queriam que o limite fosse determinado pela ciência, e não pela política, porque só a primeira seria crível.
No entanto, as reduções de emissões que os países se comprometeram a fazer em Copenhague, em 2009, praticamente garantem que essa meta não será atingida.
"Nós não saberemos até 2020 se as promessas do Acordo de Copenhague serão cumpridas, mas se nossos resultados são um guia confiável, os países podem acabar emitindo até mais do que se comprometeram - com consequências potencialmente profundas e possivelmente irreversíveis. Nossa pesquisa sugere que os negociadores devem centrar sua atenção em estratégias alternativas para a ação coletiva, tais como restrições de comércio ou padrões de tecnologia," disse Barrett.