Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/03/2024
Influência da gravidade de Marte sobre a Terra
A força gravitacional da Lua causa as marés na Terra, movendo as massas de água dos oceanos até duas vezes por dia, em uma magnitude facilmente observável.
A novidade é que Marte, mesmo muito mais distante, também tem seus efeitos nos oceanos da Terra, embora em uma escala temporal muito mais dilatada.
Ao analisar amostras de uma malha planetária de furos de sondagem, geólogos concluíram que Marte pode ter influência gravitacional suficiente para deslocar sedimentos nos oceanos da Terra em um ciclo de 2,4 milhões de anos, que os pesquisadores chamam de "grandes ciclos astronômicos".
Os testemunhos de sondagem revelam variações inesperadas na deposição dos sedimentos oceânicos. Durante os períodos de correntes oceânicas estáveis, os sedimentos se assentam em camadas constantes, mas correntes e redemoinhos podem fazer com que eles se acumulem em determinados lugares, formando "relevos".
Segundo os geólogos, as diferenças na deposição dos sedimentos oceânicos coincidem com os momentos em que a gravidade de Marte exerce força máxima na Terra, impactando sutilmente a estabilidade orbital do nosso planeta. Além de mexer no fundo do mar, isto altera os níveis de radiação solar que atingem nosso planeta, afetando o clima.
"Ficamos surpresos ao encontrar estes ciclos de 2,4 milhões de anos nos nossos dados sedimentares do fundo do mar. Só há uma maneira de explicá-los: Eles estão ligados a ciclos nas interações de Marte e da Terra orbitando o Sol," disse Adriana Dutkiewicz, que fez o estudo com colegas das universidades de Sydney (Austrália) e Sorbonne (França).
Marés induzidas por Marte
Essa influência inesperada da gravidade de Marte sobre a Terra tem como implicação mais direta que o nosso planeta apresenta períodos de maior radiação solar e clima mais quente nos ciclos de 2,4 milhões de anos. Os pesquisadores descobriram que os ciclos mais quentes se correlacionam com um aumento na ocorrência de quebras no registro do mar profundo, relacionadas a uma circulação oceânica profunda mais vigorosa.
As correntezas profundas - redemoinhos, na verdade - mostraram-se um componente importante do aquecimento dos mares. Esses redemoinhos gigantes muitas vezes atingem o fundo do mar abissal, resultando na erosão do fundo do mar e em grandes acumulações de sedimentos, chamados contornos, equivalentes a pequenas colinas.
É possível que essas correntes possam mitigar parcialmente a estagnação oceânica que alguns cientistas preveem que possa se seguir a mudanças na circulação meridional atlântica (AMOC: Atlantic Meridional Overturning Circulation), que impulsiona a Corrente do Golfo e mantém os climas temperados na Europa.
"Os nossos dados do mar profundo, abrangendo 65 milhões de anos, sugerem que os oceanos mais quentes têm uma circulação profunda mais vigorosa. Isto irá potencialmente evitar que o oceano fique estagnado, mesmo que a Circulação Meridional do Atlântico diminua ou pare completamente," disse Dutkiewicz.
Ainda não sabemos como a interação entre os diferentes processos que impulsionam a dinâmica dos oceanos profundos e a vida oceânica pode se desenrolar no futuro, mas os pesquisadores esperam que os seus novos dados ajudem na construção de melhores modelos climáticos.