Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/09/2003
Ferro em pó. Esta pode ser a saída para a limpeza de solos e águas subterrâneas contaminadas. A contaminação não ocorre apenas em acidentes. Aterros sanitários, minas abandonadas e áreas industriais estão sujeitas a processos constantes de contaminação, em maior ou menor escala. Embora ferro em pó não seja nenhuma grande novidade, fazer um pó ultrafino, onde cada partícula mede poucos nanômetros de diâmetro, e descobrir o mecanismo de sua atuação em áreas contaminadas, é um feito considerável. A pesquisa foi conduzida por Wei-xian Zhang, da Universidade Lehigh (Estados Unidos).
O poder de limpeza do ferro vem do fato simples de que ele oxida, ou enferruja. Ordinariamente o único resultado da oxidação é uma cobertura avermelhada, cor característica do óxido de ferro. Mas quando o ferro metálico se oxida na presença de contaminantes como o tricloroeteno, tetracloreto de carbono, dioxinas ou PCBs, essas moléculas orgânicas são capturadas na reação e quebradas em componentes simples de carbono que são muito menos tóxicos.
O processo é semelhante com os perigosos metais pesados como chumbo, níquel, mercúrio ou mesmo urânio. A oxidação do ferro reduz esses metais para uma forma insolúvel que tende a ficar retida no solo, ao invés de se espalhar pela cadeia alimentar a partir da plantas e da água. O ferro propriamente dito não possui nenhum efeito tóxico conhecido.
Como esse efeito da oxidação do ferro já era conhecido, várias empresas utilizam uma forma grosseira de pó de ferro para purificar seus resíduos industriais antes de liberá-los no meio-ambiente. Infelizmente, esses reatores industriais não ajudam muito no caso dos poluentes que já penetraram no solo ou nos lençóis freáticos. É aí que entra o ferro nanoparticulado. Ele não apenas é de 10 a 1.000 vezes mais reativo do que os pós convencionais, uma vez que o diminuto tamanho de suas partículas dá ao material como um todo uma área superficial muito maior, mas ele pode também ser suspenso em uma mistura e bombeado diretamente para a área contaminada. O processo é muito parecido com a aplicação de uma injeção no músculo de uma pessoa doente. Uma vez no local, as partículas irão fluir juntamente com a água subterrânea e agir diretamente no material contaminado. Um processo muito mais barato do que se fosse necessária a remoção do material do seu local, seu tratamento em usinas e sua posterior recolocação. E esse é o processo mais utilizado hoje.
O ferro nanoparticulado atua de forma similar aos tratamentos biológicos que utilizam bactérias especializadas para metabolizar as toxinas. Mas, ao contrário das bactérias, as nanopartículas de ferro não são afetadas pela acidez do solo, temperatura ou níveis de nutrientes.
Os testes mostraram que o ferro nanoparticulado permanece ativo por 6 a 8 semanas, reduzindo drasticamente os níveis de contaminação. Depois desse período, praticamente não será possível detectar o ferro, uma vez que o metal ocorre naturalmente no solo em níveis maiores do que o volume inserido para a descontaminação.
Um quilo de ferro nanoparticulado custa hoje cerca de US$50,00. Para descontaminar uma área de 100 metros quadrados, são necessários 11,2 quilos do material.