Thiago Romero - Agência FAPESP - 27/02/2007
Cobre ambientalmente correto
Acaba de entrar em operação no Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Rio de Janeiro, uma unidade de pesquisas na área de mineração, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a Unidade Semi-Piloto de Biolixiviação, que visa à redução de gases poluentes na extração de cobre.
Uma nova tecnologia, desenvolvida pelo Cetem em parceria com a empresa norte-americana Geobiotics, permite a substituição gradativa do processo pirometalúrgico (queima de sulfetos de cobre em altas temperaturas) pelo bio-hidrometalúrgico (lixiviação bacteriana). O ganho é minimizar a emissão de gases poluentes na atmosfera.
Nos moldes convencionais, a extração de cobre é feita a partir de um minério primário localizado no interior de rochas e que ainda não sofreu transformações oxidativas devido à ausência de oxigênio.
"Por meio de uma técnica conhecida como flotação, dois sulfetos que possuem teores distintos de cobre, a calcopirita e a bornita, são extraídos da rocha e separados do resto dos minerais que não são de interesse", disse Luis Santos Sobral, pesquisador da Coordenação de Processos Metalúrgicos e Ambientais do Cetem, à Agência FAPESP.
O produto final desse processo, o concentrado de flotação de sulfeto de cobre, é enviado para indústrias metalúrgicas para ser transformado, por ação de altas temperaturas acima de mil graus celsius, em cobre metálico impuro (cobre blister).
"O grande problema do processo pirometalúrgico é que, com o refino do cobre blister para a obtenção de cobre eletrolítico, que é o material comercialmente puro, são emitidos na natureza gases que podem conter metais pesados como cádmio, arsênio, mercúrio, bismuto e chumbo", descreve Sobral.
Biometalurgia
Segundo Luis Santos Sobral, a vantagem do processo bio-hidrometalúrgico é que o cobre eletrolítico é retirado do concentrado de flotação por um processo biológico. Bactérias nativas são extraídas do próprio minério e cultivadas em laboratório para que se multipliquem. "As bactérias permitem que os dois sulfetos de interesse, a calcopirita e a bornita, sejam dissolvidos em solução e purificados para a obtenção do cobre eletrolítico", explica.
O cobre eletrolítico é utilizado, em cabos e fios, para a transmissão de energia elétrica por chegar a ter 99,99% de cobre puro. Sobral afirma que, pelo processo biológico de lixiviação bacteriana, a emissão de poluentes tóxicos deixa de existir, uma vez que não há mais decomposição em altas temperaturas de sulfetos com metais pesados.
Segundo ele, a primeira Unidade de Biolixiviação será implementada na Mineração Caraíba, produtora de cobre no interior da Bahia. O objetivo é substituir, de maneira gradual, toda a planta de produção de cobre eletrolítico da companhia, que atualmente utiliza apenas o processo pirometalúrgico.
"Os dirigentes da Mineração Caraíba devem substituir toda a produção atual pelo processo bio-hidrometalúrgico até dezembro de 2010. Essa produção anual gira em torno de 70 mil toneladas de concentrado de flotação de sulfeto de cobre", disse o pesquisador do Cetem.