Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/03/2025
Planetas hiceanos
Gases que raramente são associados à existência da vida, presentes em planetas que não se parecem em nada com a Terra, podem ser o caminho mais promissor para detectar a presença de vida em planetas distantes.
Michaela Leung e colegas da Universidade da Califórnia de Riverside, nos EUA, começaram demonstrando como é possível usar o telescópio espacial James Webb para detectar gases chamados de haletos de metila, gases que compreendem um grupo metil, que carrega um átomo de carbono e três de hidrogênio, ligados a um átomo de halogênio, como cloro ou bromo.
Aqui na Terra, esses gases são produzidos principalmente por bactérias, algas marinhas, fungos e algumas plantas.
Um aspecto fundamental da busca por vida em outros mundos é que exoplanetas semelhantes à Terra são pequenos e escuros demais para serem vistos pelo Webb, que é o telescópio mais poderoso atualmente no espaço.
A equipe então se voltou para exoplanetas maiores, orbitando pequenas estrelas vermelhas, que apresentem oceanos globais profundos e atmosferas espessas de hidrogênio - esses exoplanetas são chamados planetas hiceanos, uma junção de hidrogênio com oceano.
Nós humanos não conseguiríamos respirar ou sobreviver nesses mundos, mas alguns tipos de micróbios podem prosperar nesses ambientes.
Bioassinaturas
A equipe demonstrou que o uso do Webb e um foco nos gases mais adequados permite começar a procurar imediatamente por sinais de vida - as chamadas bioassinaturas -, sem depender de novos equipamentos ou novas tecnologias, que geralmente demoram décadas para serem desenvolvidas e fabricadas.
"Ao contrário de um planeta semelhante à Terra, onde o ruído atmosférico e as limitações do telescópio dificultam a detecção de bioassinaturas, os planetas hiceanos oferecem um sinal muito mais claro," disse o astrobiólogo Eddie Schwieterman, membro da equipe.
Assim, mesmo reconhecendo que detectar oxigênio em exoplanetas semelhantes à Terra fosse uma abordagem mais desejável, detectar haletos de metila em exoplanetas hiceanos é uma oportunidade única que não pode ser perdida, já que pode ser realizada já.
Embora formas de vida produzam haletos de metila na Terra, o gás é encontrado em baixas concentrações em nossa atmosfera. Como os planetas hiceanos têm uma composição atmosférica tão diferente e orbitam um tipo diferente de estrela, os gases podem se acumular em suas atmosferas e serem detectáveis a anos-luz de distância.
"Esses micróbios, se os encontrarmos, seriam anaeróbicos. Eles seriam adaptados a um tipo muito diferente de ambiente, e não podemos realmente conceber como isso se parece, exceto para dizer que esses gases são uma saída plausível de seu metabolismo," disse Schwieterman.
Os pesquisadores planejam expandir sua técnica de detecção para outros tipos de planetas e outros gases. Por exemplo, eles fizeram medições de gases que emanam do Mar de Salton, um lago salgado localizado no sul da Califórnia, que parece produzir gases halogenados, como clorofórmio. "Queremos obter medições de outras coisas produzidas em ambientes extremos na Terra, que podem ser mais comuns em outros lugares," disse Schwieterman.
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