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Meio ambiente

Ventos de 400 km/h criam gerador elétrico na ionosfera

Redação do Site Inovação Tecnológica - 01/12/2021

Ventos de 400 km/h criam gerador elétrico na ionosfera
Emergência do campo elétrico da ionosfera, impulsionado pelos ventos que vêm de baixo.
[Imagem: NASA/ICON]

Dínamo da ionosfera

No final de 2019, a NASA lançou um satélite de observações chamado ICON (Ionospheric Connection Explorer, ou Explorador da Conexão Ionosférica), para verificar experimentalmente uma teoria antiga: A de que a Terra possuiria um "gerador elétrico" na fronteira da atmosfera com o espaço.

A teoria acaba de ser confirmada.

O satélite detectou esse dínamo na fronteira do espaço, um gerador acionado por ventos descomunais que giram ao redor de todo o globo cerca de 100 km acima de nossas cabeças.

O dínamo se localiza na ionosfera, a fronteira eletricamente carregada entre a Terra e o espaço. Ele é alimentado por ventos de maré na alta atmosfera, que são mais rápidos do que a maioria dos furacões.

Esses ventos emergem de baixo para cima, surgindo da baixa atmosfera e criando um ambiente elétrico cujo papel para o clima da Terra ainda não é totalmente compreendido - o que se sabe é que esse vento elétrico pode afetar os satélites e a tecnologia na Terra.

Tirando o Sol da equação

O primeiro ano de observações do ICON, cujos resultados estão sendo publicados agora, coincidiu com o mínimo solar, a fase tranquila do ciclo de atividade de 11 anos do Sol.

Nesse período, o comportamento do Sol não era mais do que um zumbido baixo e constante. "Sabemos que o Sol não estava fazendo muita coisa, mas vimos muita variabilidade de baixo, e então mudanças notáveis na ionosfera," disse Thomas Immel, cientista-chefe da missão. Isso significa que o Sol pode ser descartado como a principal influência do gerador magnético da ionosfera.

"Descobrimos metade do que faz a ionosfera se comportar como se comporta bem ali nos dados," disse Inmel. "Era justamente isso o que queríamos saber."

À medida que o Sol avança em sua fase ativa, rumo ao pico do novo ciclo, os cientistas terão a oportunidade de estudar mudanças e interações mais complexas entre o ventor solar e a atmosfera da Terra.

Ventos de 400 km/h criam gerador elétrico na ionosfera
Padrão dos ventos ionosféricos que surgem sobre a região amazônica durante um ciclo dia/noite.
[Imagem: NASA/ICON]

Gerador ionosférico

O principal dado revelado pelo satélite ICON é que, na ionosfera, os ventos tendem a empurrar partículas pesadas e carregadas mais do que os pequenos elétrons com carga negativa.

Essa separação entre íons e elétrons cria um campo elétrico na região, que funciona como um dínamo, perto da parte inferior da ionosfera.

E há outra diferença substancial em relação às camadas mais baixas da atmosfera: A ionosfera pode mover-se mais livremente, gerando padrões de maré que se espalham por todo o globo.

"A corrente gera seu próprio campo magnético, que entra em conflito com o campo magnético da Terra que ele está atravessando," detalhou Immel. "Então você acaba com um fio tentando fugir de você. É um gerador bagunçado."

Esse dínamo só agora foi descoberto porque ele está em uma altitude que é alta demais para os balões de observação, mas baixa demais para os satélites artificiais usados anteriormente.

Ventos mais fortes que furacões

O próprio comportamento do vento que aciona as partículas que formam o gerador da ionosfera surpreendeu os cientistas.

De 96 a 150 km acima do solo, na termosfera inferior, os ventos podem soprar na mesma direção e na mesma velocidade - cerca de 400 km/h - por várias horas, e então repentinamente inverter de direção - para comparação, os ventos nos furacões de categoria 5, os mais fortes, atingem 250 km/h.

Essas mudanças dramáticas resultam de ondas de ar, chamadas de marés, que nascem na superfície da Terra quando a baixa atmosfera se aquece durante o dia e depois esfria à noite. Elas surgem diariamente, levando para a ionosfera as mudanças vindas de baixo - a Lua também provoca marés atmosféricas.

Bibliografia:

Artigo: Regulation of ionospheric plasma velocities by thermospheric winds
Autores: Thomas J. Immel, Brian J. Harding, Roderick A. Heelis, Astrid Maute, Jeffrey M. Forbes, Scott L. England, Stephen B. Mende, Christoph R. Englert, Russell A. Stoneback, Kenneth Marr, John M. Harlander, Jonathan J. Makela
Revista: Nature
DOI: https://www.nature.com/articles/s41561-021-00848-4
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