Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/03/2019
Risco de tempestades solares
As tempestades solares podem ser muito mais fortes do que os cientistas calculavam.
Um estudo de longo prazo encontrou evidências para o terceiro caso conhecido de uma enorme tempestade solar em tempos históricos.
Paschal O'Hare e seus colegas da Universidade de Lund, na Suécia, acreditam que nossa sociedade pode não estar suficientemente preparada para um evento semelhante que calhe de acontecer agora.
As tempestades solares são feitas de partículas de alta energia liberadas do Sol por explosões na superfície da estrela. Elas são muito comuns, mas, assim como as tempestades aqui na Terra, algumas podem ser muito mais fortes do que outras.
Dois exemplos de tempestades solares severas nos tempos modernos, que causaram extensos cortes de energia, ocorreram em Quebec, no Canadá, em 1989, e em Malmo, na Suécia, em 2003 - além do famoso - Evento Carrington, em 1859.
Grandes tempestades, grandes preocupações
Nos últimos 70 anos, os pesquisadores têm estudado as tempestades solares de grandes proporções por meio de observações instrumentais diretas, o que levou a um entendimento de como elas podem representar um risco para a rede elétrica, sistemas de comunicação, satélites, computadores e tráfego aéreo.
Os pesquisadores suecos foram atrás de observações indiretas, que têm a vantagem de cobrir um período maior. Para isso, eles se basearam em amostras de gelo coletadas por perfuração - testemunhos de sondagem ou núcleos de gelo. Os núcleos foram coletados na Groenlândia e contêm gelo formado ao longo dos últimos 100.000 anos.
O material contém evidências de uma tempestade solar muito poderosa que ocorreu em 660 AC, para a qual não havia registro histórico.
Os dados também confirmaram a existência de outras duas grandes tempestades solares, anteriormente indicadas pelos anéis anuais de crescimento de árvores antigas. Essas tempestades ocorreram em 775 e 994 da nossa era.
A equipe ressalta que, apesar de essas tempestades solares muito fortes serem raras, a nova descoberta mostra que elas são um efeito naturalmente recorrente da atividade solar.
"É por isso que precisamos aumentar a proteção da sociedade novamente contra tempestades solares," disse Raimund Muscheler, professor de geologia na Universidade de Lund. "Nossa pesquisa sugere que os riscos estão subestimados. Precisamos estar melhor preparados."
Por outro lado...
David Moriña e colegas da Universidade Autônoma de Barcelona, no entanto, não compartilham as mesmas preocupações.
Eles construíram um modelo de previsão que estima que a probabilidade de uma tempestade solar de grandes proporções que atinja a Terra tem de 0,46% a 1,88% de chance de ocorrer nos próximos 10 anos.
"Em 2012, os resultados relatados na literatura científica estimaram a probabilidade de ser em torno de 12%, dez vezes mais do que nossa estimativa mais pessimista. Nosso modelo é mais flexível do que os anteriores e também inclui o modelo usado para as estimativas anteriores como um caso específico," disse Moriña.
Contudo, o trabalho espanhol não levou em conta a descoberta sueca, já que ambos os estudos foram publicados quase simultaneamente.
Índice DST
A intensidade das perturbações da superfície solar, como erupções e ejeções de massa coronal que afetam a magnetosfera da Terra, tem sido medida desde 1957 usando o "Índice Dst", que centraliza os valores coletados a cada hora em estações localizadas ao redor do globo.
Dst é uma abreviação de disturbance, ou campo de perturbação, que é axialmente simétrico em relação ao eixo do dipolo terrestre - os polos norte e sul magnéticos -, e que é considerado como uma função da duração da tempestade.
Normalmente, o valor desse parâmetro varia de -20 a +20 nT (nanoteslas, um bilionésimo de uma unidade tesla; uma unidade tesla pode ser comparada à densidade do fluxo magnético gerada por um alto-falante poderoso). Estima-se que o índice Dst associado ao Evento Carrington tenha um valor de aproximadamente -850 nT.