Redação do Site Inovação Tecnológica - 02/06/2014
Teletransporte prático
Para um elétron aprisionado no interior de um diamante, o teletransporte seguro já é uma realidade.
"O que é excepcional em nossa técnica é que é 100% garantido que o teletransporte vai funcionar. A informação sempre chegará ao seu destino, por assim dizer. E, mais importante, o método também tem o potencial para ser 100% preciso," garante o professor Ronald Hanson, da Universidade Tecnológica de Delft, na Holanda.
O grupo do professor Hanson não foi o primeiro a conseguir realizar o teletransporte quântico com garantia de funcionamento, algo realizado por duas outras equipes em meados do ano passado, mas foi o primeiro a conseguir refazer o experimento repetidamente com resultados precisos.
Embora o teletransporte estilo Jornada nas Estrelas continue sendo impossível pelo que se conhece das leis da física, pode-se dizer agora que o teletransporte quântico tornou-se uma realidade prática.
Este é um passo essencial rumo à internet quântica, que promete comunicação ultrarrápida entre computadores - além, é claro, dos próprios computadores quânticos.
Teletransporte quântico
No teletransporte quântico, o dado contido em um qubit é transmitido à distância para outro qubit instantaneamente, graças ao fenômeno do entrelaçamento, em que duas partículas ficam "conectadas" de uma forma que qualquer coisa que acontecer a uma alterará imediatamente a outra.
Neste novo experimento, os qubits estavam a três metros de distância uns dos outros, mas a equipe já anunciou planos para repetir a nova técnica de teletransporte a uma distância de 1.300 metros, entre dois laboratórios da universidade.
Outras técnicas já permitiram realizar teletransportes a mais de 100 km, mas a taxa de erro é grande demais para aplicações práticas.
Os pesquisadores garantem agora ter resolvido esse problema, trazendo a taxa de erros para 0%.
Vacâncias de nitrogênio
O experimento usa qubits de diamante, produzidos em pontos conhecidos como "vacâncias de nitrogênio", um defeito que surge na estrutura atômica do diamante quando um átomo de nitrogênio toma o lugar de um átomo de carbono.
Nesse caso, ao lado do átomo de nitrogênio gera-se um espaço vazio, onde não cabe outro átomo de carbono. Mas os elétrons "soltos" dos átomos de carbono ao redor ficam lá, por assim dizer aprisionados - são esses elétrons que são utilizados como qubits.
Elétrons são melhores do que núcleos atômicos para funcionarem como qubits, ou memórias quânticas, porque podem fazer cálculos mais rapidamente.
"Nós definimos o spin (direção de rotação) dessas partículas em um estado predeterminado, verificamos esta rotação e, posteriormente, lemos os dados. E nós fizemos tudo isso em um material que pode ser usado para fazer chips. Isto é importante porque muitos acreditam que somente sistemas baseados em chips podem ser ampliados para uma tecnologia prática," explica Hanson.
Einstein estava errado?
Os pesquisadores acreditam que, além de seu potencial prático, sua técnica poderá se tornar um marco histórico no campo da física.
O experimento repetido a uma grande distância, segundo eles, poderá ser a primeira demonstração que atenda aos critérios do chamado "teste de Bell incontestável" (loophole-free Bell test).
Isto significa que seria a demonstração inequívoca - sem brechas, sem possibilidade de contestação - das correlações não locais entre partículas, comprovando que haveria influências "escondidas" além do espaço-tempo.
Seria então o primeiro caso em que os físicos se encheriam de orgulho ao dizer que "Einstein estava errado" - Einstein nunca acreditou no entrelaçamento quântico, que ele chamava de "ação fantasmagórica à distância".