Agostinho Rosa - 23/04/2010
Para os norte-americanos, o feito mais marcante da era espacial talvez tenha sido a ida à Lua. Eles não estão longe de terem razão.
Mas naquele evento havia um quê de nacionalismo exacerbado, de uma época em que as guerras eram frias, embora os ânimos muito quentes.
Para o restante da humanidade, e mesmo talvez para muitos dos norte-americanos, contudo, o maior feito da era espacial até agora foi sem nenhuma dúvida o Telescópio Espacial Hubble.
Longe dos sonhos visionários da conquista espacial, o Hubble não levou astronautas à Lua ou a qualquer outro lugar. Ele fez mais do que isso. Ele trouxe até nós estrelas, galáxias, espetáculos celestiais que já se extinguiram há bilhões de anos, como cujo registro está gravado eternamente na luz que viaja pelo espaço.
E toda essa história, todas essas mensagens de um passado escrito no vácuo do Universo, por ondas que viajam sem precisar de naves, só pôde ser conhecida pelo homem graças aos instrumentos do Telescópio Espacial Hubble.
Já temos novos telescópios no espaço, mais poderosos, e logo teremos outros. Mas a história do Hubble também não poderá ser apagada. Sobretudo porque ela está registrada nas mentes e nos corações de toda uma geração, que aprendeu a se admirar com belezas que antes simplesmente não sabíamos existirem.
Ao longo de 20 anos de observações, foram 570.000 imagens de 30.000 objetos celestes. Não parece tanto se elas forem reduzidas aos 45 terabytes de dados que representam, algo como 5.800 DVDs, que caberiam numa caixa nem tão grande.
Mas cada imagem, além de deslumbrante, para a qual se pode olhar sem se cansar, representa um universo por si só - a maioria delas ainda continua sendo estudada pelos astrônomos. Só com base nas observações do Hubble, os pesquisadores geraram mais de 8.700 artigos científicos. E são quase mil novos artigos escritos a cada ano.
Essas pesquisas mudaram quase tudo o que se sabia de astronomia, um campo que claramente se divide entre antes e depois do Hubble. A idade do Universo, o crescimento das galáxias, buracos negros gigantes, energia escura, expansão acelerada do Universo - tudo isso passou pelos olhos do Hubble.
É por isso que o público aprendeu a amá-lo. E a amar a ciência que o Hubble representa. E não se trata de idolatrar um objeto. Ao contrário, trata-se de amar a própria inventividade e coragem humanas, de imaginar e realizar uma máquina tão grandiosa, que, lançada aos céus, para onde sempre olhamos com êxtase, traz o céu até nós.
Parabéns, Hubble, e muitos anos de vida.
Agostinho Rosa
Editor
História do Hubble, desde a concepção
1946
Lyman Spitzer lança o conceito de um telescópio espacial em seu artigo "Vantagens Astronômicas de um Observatório Extra-Terrestre".
1969
Coordenador por Spitzer, o Comitê Ad Hoc do Grande Telescópio Espacial pede formalmente à NASA o desenvolvimento de um telescópio orbital, em um artigo chamado "Usos Científicos do Grande Telescópio Espacial."
1971
O recém-formado grupo Gestão Científica do Grande Telescópio Espacial, da NASA, estuda a viabilidade de um telescópio orbital.
1977
O Congresso norte-americano aprova o financiamento para a construção do telescópio espacial. A NASA contrata a empresa Perkin-Elmer para fabricar os sistemas ópticos. A Lockheed vence a licitação para fabricar o corpo do telescópio.
1981
A empresa Perkin-Elmer termina a construção do espelho do telescópio espacial. Contudo, a empresa comete um erro, que só seria detectado depois que o telescópio tinha sido lançado, que faz com que o espelho distorça as imagens.
1983
O telescópio espacial recebe oficialmente o nome de Hubble, em homenagem ao físico norte-americano Edwin P. Hubble.
1984
A empresa Perkin-Elmer termina a construção do sistema óptico do Telescópio Espacial Hubble - incluindo o defeito, ainda não detectado.
1985
A empresa Lockheed completa a montagem do Hubble.
1986
O lançamento do Telescópio Espacial Hubble é adiado devido ao acidente com o ônibus espacial Challenger.
1990 - 24 de Abril
O ônibus espacial Discovery coloca o Telescópio Espacial Hubble em órbita. Para decepção geral, as primeiras imagens saem totalmente borradas. Só então os cientistas descobrem que o espelho foi fabricado pela Perkin-Elmer com uma aberração esférica.
1993
Os astronautas do ônibus espacial Endeavour instalam lentes que corrigem o problema da aberração esférica. São instaladas as câmeras Wide Field e Planetary Camera 2. Os computadores do Hubble são atualizados e os painéis solares são substituídos por novos.
1994
O Hubble fotografa a colisão dos destroços do cometa Shoemaker-Levy 9 contra a atmosfera de Júpiter, em um dos feitos considerados entre os mais importantes da história da astronomia.
1997
Astronautas do ônibus espacial Discovery fazem a segunda manutenção do Hubble.
1998
As observações precisas da luminosidade de estrelas muito distantes confirmam que a expansão do universo está se acelerando.
1999
Astronautas do Discovery substituem os seis giroscópios responsáveis por manter o alinhamento do Hubble.
2002
Astronautas do Columbia substituem os painéis solares do Hubble e instalam a Advanced Camera for Surveys.
2009
Astronautas do Atlantis realizam a última missão de manutenção do Hubble, trocando seus principais componentes e praticamente tornando-o um novo telescópio, ainda mais poderoso.