Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/06/2023
Spin do elétron
Uma equipe de pesquisa internacional conseguiu pela primeira vez medir o spin do elétron na matéria, ou seja, a curvatura do espaço em que os elétrons vivem e se movem.
O momento magnético dos elétrons já é largamente explorado tecnologicamente, no armazenamento de dados, no campo específico da spintrônica e mesma da computação quântica. Contudo, ainda entendemos pouco sobre os meandros dessa propriedade, o spin, comumente descrito de forma muito caricatural como se fosse a agulha de uma bússola interna do elétron.
Assim, esta nova medição promete otimizar muito o modo como os materiais quânticos são estudados, abrindo portas para novos desenvolvimentos em tecnologias quânticas, com possíveis aplicações em vários campos tecnológicos, desde as energias renováveis à biomedicina, da eletrônica aos computadores quânticos.
Usando luz gerada por um acelerador de partículas, o síncrotron, e graças a modernas técnicas de modelagem do comportamento da matéria, a equipe conseguiu medir pela primeira vez o spin do elétron, que está relacionado ao conceito de topologia.
"Se pegarmos dois objetos, como uma bola de futebol e uma rosquinha, notamos que suas formas específicas determinam diferentes propriedades topológicas, por exemplo porque a rosquinha tem um buraco, enquanto a bola de futebol não tem," explicou Domenico Di Sante, da Universidade de Bolonha, na Itália.
"Da mesma forma, o comportamento dos elétrons nos materiais é influenciado por certas propriedades quânticas que determinam sua rotação na matéria em que se encontram, semelhante a como a trajetória da luz no Universo é modificada pela presença de estrelas, buracos negros, matéria e energia escura, que dobram o tempo e o espaço," detalhou.
Spin topológico
Embora essa característica dos elétrons seja conhecida há muito tempo, até agora ninguém havia conseguido medir diretamente esse "spin topológico".
O resultado pode ser comparado a uma visão 3D da banda eletrônica, permitindo ver a superfície do que até agora só era visto como uma zona de interação plana. Se pudermos controlar a energia dessa banda, será possível eventualmente observar novas fases topológicas previstas pela teoria, com aplicações potenciais em computação e armazenamento de dados, apenas para citar algumas possibilidades.
Para conseguir isso, Di Sante e seus colegas exploraram um efeito particular conhecido como dicroísmo circular, uma técnica experimental especial que só pode ser usada com uma fonte síncrotron, que explora a capacidade dos materiais de absorver a luz de maneira diferente, dependendo de sua polarização.
A equipe voltou sua atenção particularmente para os chamados materiais kagome, uma classe de materiais que devem seu nome à sua semelhança com a trama de fios de bambu entrelaçados que compõem uma cesta tradicional japonesa.
Esses materiais estão revolucionando a física quântica, e os resultados obtidos podem nos ajudar a aprender mais sobre suas propriedades magnéticas, topológicas e supercondutoras especiais.