Redação do Site Inovação Tecnológica - 04/09/2023
Restrição genética
A seleção natural é geralmente entendida no contexto da mudança: Quando os organismos se desviam da norma, eles podem obter vantagens que permitem que suas linhagens sobrevivam às dos seus parentes menos adaptáveis.
Mas novas pesquisas sugerem que a seleção natural também tem o poder de manter as coisas iguais.
"Sempre falamos sobre a vasta diversidade da vida, e devemos mesmo falar, ela é incrível. A seleção natural nos deu muita dessa diversidade, provavelmente a maior parte dela. Mas a seleção natural também pode causar semelhanças," disse o professor Jeff Conner, da Universidade do Estado de Michigan (EUA).
Essa expansão na compreensão da ciência sobre a seleção natural envolve um novo mecanismo evolutivo, que a equipe chama de "restrição genética", ou "constrangimento genético".
A ideia por trás da restrição é que, à medida que as espécies evoluem, elas podem perder flexibilidade genética em determinadas áreas. Isso faz com que características específicas se estabilizem e persistam através das gerações.
Assim, passa a ser válido pensar na seleção natural como o acelerador da evolução, fomentado características diferentes ou divergentes, e as restrições como freios, mantendo ou conservando semelhanças.
"Nosso trabalho inverte um pouco o roteiro," disse Conner. "Estamos sugerindo que a seleção também pode desacelerar as coisas, que ela pode causar semelhanças e diferenças."
Seleção natural trabalhando pela conservação
Os pesquisadores montaram sua nova teoria estudando o rabanete selvagem como organismo modelo, uma erva daninha altamente prejudicial na agricultura, especialmente nos campos de trigo na Austrália e no sudeste dos Estados Unidos.
Em dois estudos complementares, a equipe investigou uma característica definidora do rabanete selvagem, que é o comprimento de seus estames, ou partes produtoras de pólen - dois de seus seis estames são curtos e quatro são longos.
Essa característica também é amplamente compartilhada pelos quase 4.000 parentes do rabanete selvagem, na família da mostarda. Isso inclui a Arabidopsis thaliana, outro importante organismo modelo; a erva-alheira, uma espécie invasora nos Estados Unidos; e muitas culturas como couve, couve-flor e couve-de-bruxelas.
Para avaliar a influência da seleção e da restrição no traço distintivo do estame dessa família, os pesquisadores recorreram ao que é conhecido como "seleção artificial", ou seja, eles criaram seletivamente rabanetes selvagens cujos estames estavam mais próximos do mesmo comprimento para tentar mudar essa característica. "Se a característica responde à seleção artificial, ela claramente pode evoluir. Mas, se a característica não responder, há uma restrição causada pela falta de variação genética," escreveu a equipe.
Evolução conservadora
A característica não apenas respondeu, como também respondeu muito rapidamente: A diferença no comprimento dos estames foi reduzida em mais de 30% dos experimentos.
"Esta família de plantas manteve essa característica de quatro [estames] longos e dois curtos ao longo de 50 milhões de anos, e nós pudemos eliminar um terço da diferença em cinco gerações, o que seria cinco anos. Meu palpite é que, se continuássemos, voltaríamos a ter seis estames de comprimentos iguais," disse Conner.
"A seleção natural é muito importante. Muitas coisas que as pessoas pensavam que a seleção natural não poderia fazer, estamos aprendendo que a seleção pode fazer," concluiu o pesquisador.