Redação do Site Inovação Tecnológica - 25/08/2022
Lago sem fundo
Depois de selecionar cuidadosamente uma área onde o robô Perseverança poderia colher sinais dos antigos oceanos de Marte, os cientistas estão tendo que retornar às pranchetas em busca de explicações alternativas.
A equipe da missão acaba de anunciar uma descoberta surpreendente e inesperada sobre a composição geológica da Cratera Jezero, que o rover está estudando desde o ano passado.
Os dados mostram que a cratera é largamente composta de rochas ígneas, e não de rochas sedimentares.
Tudo indica que a Cratera Jezero conteve água bilhões de anos atrás. Por esse motivo, os cientistas previam que as rochas na área seriam sedimentares, formadas ao longo do tempo a partir da sedimentação de lama e detritos, como acontece nos leitos de lagos na Terra. E rochas sedimentares são ótimas para preservar antigos sinais de vida.
Mas, para surpresa geral, a rocha em Jezero é ígnea, formada por magma vulcânico.
Vulcanismo, não deposição por sedimentação
As rochas ígneas estudadas pelo rover são feitas principalmente de olivina (um mineral ígneo) de granulação grossa, indicando que elas se formaram durante o resfriamento lento de uma espessa camada de magma - a composição da rocha é semelhante a alguns meteoritos marcianos encontrados na Terra.
Outra equipe analisou uma varredura de radar contínua capturada pelo rover durante sua jornada inicial de 3 quilômetros, revelando a estratigrafia rochosa da cratera e as propriedades eletromagnéticas a uma profundidade de cerca de 15 metros abaixo da superfície. Os dados indicam que a estrutura em camadas abaixo do fundo da cratera reflete uma história de atividade ígnea, embora pareçam haver também indícios que podem ser interpretados como gerados por uma exposição repetida à água líquida.
Um terceiro instrumento, que fez um sensoriamento remoto durante os primeiros 286 dias da missão, revelou um terreno vulcânico com camadas de rochas estratificadas abaixo da superfície por densidade e composição. As camadas de rochas estratigráficas inferiores são mais ricas em piroxênio, e a camada mais baixa observada é rica em olivina.
Surpresa
Estes resultados praticamente descartam a tão esperada detecção de sinais antigos de vida microbiana neste local tão promissor de Marte, que são tipicamente conservados em rochas sedimentares. E diminuem o interesse no projeto de recolher as amostras que o robô Perseverança está preparando para uma missão futura.
A descoberta de consolação é que as rochas ígneas são mais fáceis de datar do que as sedimentares, de forma que será possível estabelecer com mais rigor a janela temporal para quando Marte pode ter tido água.
"Encontrar essas rochas ígneas no leito de um antigo lago em Marte foi uma grande surpresa. Seria de se esperar sedimentos no leito do lago, mas isto mostra que a história de Marte é mais complicada do que o esperado, incluindo fluxos de lava neste local antigo," disse Roger Wiens, cientista-chefe do instrumento SuperCam
A SuperCam usa um feixe de laser infravermelho focado para remover poeira e material das superfícies das rochas, uma técnica chamada espectroscopia de ruptura induzida por laser. A explosão de energia de cada pulso de cinco nanossegundos cria um flash, e o espectro óptico (cores específicas) desse brilho revela a química elementar de alvos até cerca de oito metros de distância.