Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/09/2018
Computação na borda
Existem milhões - talvez bilhões - de equipamentos eletrônicos subutilizados no mundo. O poder de armazenamento, rede, sensoriamento e computacional de roteadores, laptops, computadores domésticos e estações rádio-base cresce a cada nova versão e cada lançamento de novo produto.
Por que não colocar todos esses gigabytes extras de memória e essas unidades de processamento para trabalhar de forma colaborativa e expandir os serviços disponíveis para todos nós?
Essa é a ideia de Vincenzo Mancuso e Antonio Fernández Anta, do Instituto de Redes IMDEA, na Espanha.
Evidentemente, isso exigirá mudar nossa concepção de propriedade sobre os aparelhos, criar novos sistemas de segurança e criar mecanismos para que quem cede os aparelhos seja remunerado por isso. É o que a equipe espanhola planeja fazer, pretendendo ter ao menos um esboço dessa nova estrutura até dezembro do ano que vem.
O projeto DisCoEdge (disco nas bordas, em tradução livre) pretende criar uma infraestrutura para distribuir tarefas computacionais e de armazenamento de dados entre muitos dispositivos simples na "borda" da internet - o seu roteador doméstico, por exemplo, ou outros aparelhos, incluindo o seu celular, quando você não o estiver usando e ele estiver plugado no carregador.
A equipe acredita que essa infraestrutura abrirá novos mercados, nos quais usuários privados e empresariais poderão se unir como se fosse um mercado de redes sociais, onde será possível comprar ou vender o uso parcial de dispositivos pessoais ou industriais para armazenar informações, executar um programa, minerar dados etc.
Isso permitirá aplicações novas para usuários trabalhando em conjunto, fazendo downloads e compartilhando conteúdo de entretenimento, sistemas de armazenamento corporativo (semelhantes ao Dropbox ou Google Drive) que usam smartphones e laptops de funcionários, ou dispositivos domésticos que compartilham espaço em disco para armazenar vídeos e música.
Mercado revolucionário
"O sistema tem como objetivo a eficiência energética e de custos. Não haverá necessidade de acessar uma rede celular ou usar o Wi-Fi para que o sistema funcione, já que os dispositivos das pessoas também podem falar uns com os outros usando comunicação dispositivo a dispositivo que hoje é comum em smartphones, como Bluetooth.
"No entanto, será necessário uma entidade para coordenar e tornar possível o compartilhamento seguro entre um conjunto de máquinas não necessariamente confiáveis. É aqui onde a tecnologia blockchain entra em ação, uma vez que essa tecnologia nos permitirá construir uma infraestrutura distribuída, transparente e cooperativa para rastrear transações entre usuários," explica Mancuso.
O maior desafio é que dispositivos pertencentes a pessoas ou empresas devem compartilhar e acessar dinamicamente e de forma segura vários recursos computacionais disponíveis em suas proximidades (por exemplo, ilhas Wi-Fi, redes domésticas, aparelhos confiáveis formando uma nuvem pessoal ou comunitária e mesmo redes de rádio móveis 5G).
Isso exigirá o desenvolvimento de uma interface polivalente e novos protocolos de segurança, já que será necessário levar em conta a presença de usuários eventuais ou até mesmo atacantes e usuários mal-intencionados que possam prejudicar o desempenho do sistema ou roubar informações pessoais e comerciais.
"Sabemos que, para que a participação nesse mercado revolucionário pareça valer a pena para empresas e proprietários privados, precisamos implementar um sistema de incentivos e recompensas," disse Antonio Fernández. "A ideia-chave por trás do DiSCoEdge não é gerar um mercado de agentes livres, mas sim uma plataforma que atua como corretora de mercado, intermediária e fornece garantias. Em nossa visão, o corretor torna as transações transparentes e rastreáveis graças à adoção de conceitos inovadores de blockchain."