Redação do Site Inovação Tecnológica - 05/12/2024
Eletroagricultura
Cientistas estão propondo uma nova técnica de cultivar alimentos sem usar luz - sim, uma agricultura no escuro, sem Sol ou lâmpadas.
A agricultura depende da fotossíntese das plantas, mas Bradie Crandall e colegas da Universidade de Washington, nos EUA, defendem agora que esse processo é lento demais para as exigências capitalistas, além de requerer muitos recursos, o que o torna ineficiente para atender às necessidades de alimentos, seja para os humanos, seja para o gado e outros animais de criação.
A saída, segundo eles, está na eletroagricultura, uma estrutura que combina eletrólise de dióxido de carbono (CO2) com sistemas biológicos.
Analisando o uso das terras agrícolas nos Estados Unidos, a equipe calcula que esse sistema poderia reduzir o uso da terra em quase 90%, além de permitir que alimentos sejam cultivados em áreas urbanas e desertos, sem a necessidade de luz ou de pesticidas. A técnica também permite que os agricultores usem os fertilizantes de forma mais eficiente.
Como argumentos adicionais para sua proposta de agricultura no escuro, a equipe destaca que a eletroagricultura poderia reduzir os impactos ambientais da produção de alimentos, simplificar as cadeias de abastecimento e resolver a crise alimentar global.
Alimentar plantas com acetato
Em lugar dos fótons solares atingindo os cloroplastos das plantas, a proposta da eletroagricultura se baseia no acetato, um íon com carga negativa com a fórmula química CH3COO-.
Além de ser o principal componente do vinagre e de ser um dos produtos que podem ser fabricados a partir do CO2, o acetato já vem sendo largamente incluído nas pesquisas de fotossíntese artificial.
Este novo trabalho destaca que o acetato também pode servir como alimento para as plantas. Para isso, as plantas teriam que ser geneticamente modificadas para se alimentar de acetato, sem perder a capacidade de fotossíntese, tornando a agricultura vertical interna mais eficiente em termos de energia.
Mas o objetivo de longo prazo é projetar geneticamente plantas que possam depender totalmente do acetato como combustível, o que poderia levar a uma redução maciça no uso de terras agrícolas, que poderiam então ser destinadas à conservação e à descarbonização.
"A eletroagricultura permitiria tanto a restauração ecológica quanto o sequestro natural de carbono em grande escala," escrevem os autores.
Desafios para a eletroagricultura
A técnica de eletroagricultura no escuro também poderá ser usada para produzir combustíveis ou materiais biodegradáveis, uma vez que fungos, leveduras e algas também podem se alimentar de acetato.
A equipe reconhece que a técnica não é economicamente competitiva com a agricultura tradicional, e nem deverá sê-lo a curto prazo, mas defendem que subsídios adequados poderiam facilitar isto, ajudando a estabilizar mercados e cultivar alimentos em espaços inóspitos.
Os esforços em andamento estão focados em cultivares de alto valor, como alface e tomate, mas a eletroagricultura também oferece a oportunidade de produzir proteínas de ovos e laticínios a partir da fermentação de precisão alimentada por acetato, ou para fabricar carne artificial, cultivada em laboratório.
"Esta tecnologia apresenta uma oportunidade de reinventar a agricultura do zero," escreveu a equipe. "E ela deve ser desenvolvida e implantada cuidadosamente, para evitar perpetuar as desigualdades que existem atualmente no sistema alimentar global de hoje."