Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/07/2021
Geologia de Marte
Três estudos publicados na edição desta semana da revista Science trazem a primeira compilação das observações sísmicas de Marte, feitas pela sonda InSight, da NASA.
Esses estudos são os primeiros a mapear o interior de um planeta além da Terra.
Estudar as camadas internas de um planeta - sua crosta, manto e núcleo - pode trazer informações sobre sua formação e evolução, bem como descobrir qualquer atividade geomagnética e tectônica.
Essas regiões interiores profundas podem ser sondadas medindo-se as ondas que viajam pelo planeta após eventos sísmicos, como terremotos ou, neste caso, martemotos, os terremotos de Marte. São esses os mesmos métodos que têm sido fundamentais para o estudo das características internas da Terra.
Crosta
No primeiro estudo, Brigitte Endrun e seus colegas usaram os martemotos e o ruído sísmico ambiente para criar imagens da estrutura da crosta marciana abaixo do local de pouso da InSight, encontrando evidências de uma crosta formada por várias camadas, com duas ou três interfaces.
Extrapolando esses dados para todo o planeta, os pesquisadores concluíram que a espessura média da crosta de Marte fica entre 24 e 72 quilômetros.
Manto
No segundo estudo, Amir Khan usou ondas sísmicas diretas e refletidas na superfície de oito martemotos de baixa frequência para sondar mais fundo e revelar a estrutura do manto de Marte, a uma profundidade de quase 800 km.
Os resultados indicam que uma litosfera espessa fica perto de 500 km abaixo da superfície e, como na Terra, provavelmente tem uma camada de baixa velocidade de propagação de ondas abaixo dela. De acordo com a equipe, a camada crustal de Marte é provavelmente altamente enriquecida em elementos radioativos produtores de calor, que aquecem esta região às custas do interior do planeta.
Núcleo de Marte
Ainda mais fundo, Simon Stähler e seus colegas usaram os tênues sinais sísmicos refletidos na fronteira entre o manto e o núcleo de Marte para investigar o núcleo marciano.
Eles concluíram que o núcleo de Marte é formado em larga medida por metal líquido. E é um núcleo incrivelmente grande, com um raio de quase 1.830 quilômetros - ou seja, o núcleo tem mais do que a metade do diâmetro de Marte.
O núcleo marciano começa aproximadamente na metade do caminho entre a superfície e o centro do planeta. Isso sugere que o manto de Marte consiste em apenas uma camada rochosa, em vez de duas, como na Terra. Os resultados também indicam que o núcleo de ferro-níquel é menos denso do que se pensava e mais rico em elementos mais leves.
Frustrações
A sonda InSight (sigla em inglês para (Exploração Interior Usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor) pousou em Marte no início de 2019 e é uma das menos conhecidas sondas marcianas, talvez porque seja fixa, e não um rover, como os exploradores marcianos mais famosos.
Além disso, a sonda vem sofrendo com problemas técnicos, tendo sido marcada sobretudo pelo não funcionamento do seu principal instrumento científico, uma perfuratriz, conhecida como "Toupeira de Marte", que deveria perfurar o solo até vários metros de profundidade.
Depois disso, sua operação vem sendo crescentemente limitada pela baixa produção de eletricidade dos seus painéis solares, já quase totalmente cobertos por poeira.