Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/02/2013
Tato para a luz
Se você ainda não se julga preparado para conviver com os "humanos aprimorados", este pode ser um bom momento para começar a treinar.
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que trabalha na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, acaba de realizar o primeiro experimento que mostra a possibilidade de dar novos sentidos aos seres vivos - em acréscimo aos cinco sentidos tradicionais.
Nicolelis e seus colegas deram a um rato adulto a capacidade para "tocar" a luz infravermelha, que é invisível para esses animais, assim como para o homem.
Isso foi possível conectando um sensor de infravermelho a eletrodos microscópicos implantados na parte do cérebro que processa a informação do tato.
Assim, quanto o sensor detectava o feixe de luz infravermelha, os animais sentiam como se estivessem tocando a luz.
Visão magnética e visão de energia
Segundo Nicolelis, esta é a primeira vez que uma interface cérebro-máquina, ou interface neural, conseguiu ampliar os sentidos físicos de um animal adulto.
O experimento também demonstrou pela primeira vez que uma nova entrada sensorial pode ser processada por uma região cortical especializada em outro sentido sem "sequestrar" a função dessa área do cérebro, já que os ratos continuaram com seu sentido do tato normal.
Isso sugere, por exemplo, que uma pessoa cujo córtex visual tenha sido danificado poderia recuperar a visão através de uma neuroprótese implantada em outra região do cérebro, propõe o neurocientista.
Embora os experimentos iniciais tenham avaliado apenas se ratos poderiam detectar a luz infravermelha - "senti-la" - parece não haver razão para que estes animais no futuro não possam adquirir visão infravermelha plena, disse Nicolelis.
Para isso, bastará desenvolver neuropróteses corticais para dar aos animais, ou aos seres humanos, a capacidade de ver em qualquer região do espectro eletromagnético, ou até mesmo campos magnéticos.
"Poderemos criar dispositivos sensíveis a qualquer energia física," disse ele. "Pode ser campos magnéticos, ondas de rádio ou ultrassom. Escolhemos inicialmente o infravermelho porque ele não interfere com nossos registros eletrofisiológicos."
Trans-humanos
"A filosofia da área das interfaces cérebro-máquina até agora tem se limitado à tentativa de restaurar funções motoras perdidas por lesão ou dano do sistema nervoso central," disse Eric Thomson, principal autor do estudo.
"Este é o primeiro trabalho em que uma neuroprótese foi utilizada para ampliar a função, literalmente permitindo que um animal normal adquirisse um sexto sentido," completou.
Essas possibilidades vêm sendo discutidas há anos por futurólogos e adeptos do chamado trans-humanismo, uma área de pesquisas cujo objetivo seria dar aos seres humanos capacidades não-naturais, mediante a junção do biológico com a tecnologia através de aparelhos biomecatrônicos.
Projeto Andar de Novo
A FINEP aprovou recentemente um financiamento de R$33 milhões para o projeto Andar de Novo, comandado por Nicolelis através do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN).
O objetivo seria desenvolver um exoesqueleto que permita que um deficiente físico dê o pontapé inicial da Copa de Mundo de Futebol de 2014.
Embora as duas pesquisas não estejam diretamente ligadas, Nicolelis garante que a capacidade de inserção dos microeletrodos usados no cérebro dos ratos, que permite comandar ou detectar sinais de até 2.000 neurônios de uma só vez, poderá ajudar também no controle mais preciso das neuropróteses, dos exoesqueletos e dos chamados equipamentos controlados pelo pensamento.
Por exemplo, enquanto hoje os pesquisadores estão tentando usar o feedback tátil para permitir que os pacientes sintam os movimentos produzidos por essas "vestes robotizadas", a realimentação também poderá assumir a forma de um sinal de rádio ou luz infravermelha, que daria informações sobre a posição dos membros do exoesqueleto ou seu encontro com objetos.