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Informática

Negociadores robôs ameaçam estabilidade dos mercados?

Com informações da BBC - 10/09/2013

Negociadores robôs ameaçam estabilidade dos mercados
Passado e presente no mercado financeiro e de ações.
[Imagem: BBC]

Negociação automatizada

"A coisa é simples assim: Os seres humanos não podem competir em velocidade."

Quem afirma é John Coates, que há 10 anos era um negociante de ações em Wall Street.

Hoje, ele é um neurocientista da Universidade de Cambridge, e passa os dias monitorando os hormônios dos corretores e investidores para tentar descobrir a velocidade de seus movimentos de compra e venda.

"Existem testes simples que você pode fazer: quando você vê uma luz verde, você clica no mouse. O mais rápido que você pode fazer fica entre 100 e 120 milissegundos. Qualquer processamento cognitivo básico, descobrir coisas, por exemplo, pode levar de 200 a 300 milissegundos," diz ele.

O problema é que, nos mercados de ações e no mercado financeiro, as negociações estão sendo fechadas em 10 milissegundos.

E os negócios não estão sendo fechados por nenhum super-homem, mas pelo que se conhece no jargão do mercado como "caixas" (boxes), uma abreviação de caixas-pretas, que nada mais são do que programas de computador, negociantes automatizados, ou corretores-robôs.

O que está tirando os humanos do páreo é que esses programas de negociação automatizada são, no mínimo, 10 vezes mais rápidos do que os humanos.

Foi por isso que Coates saiu do mercado: "Não dá para competir."

Com tanta velocidade, as corretoras agora ganham dinheiro raspando uma margem de lucro mínima em volumes de negócios inimaginavelmente grandes, comprando e vendendo rapidamente para ganhar uma fração de centavo em cada negociação.

Ações à velocidade da luz

Há poucos anos, quando se falava em bolsas de valores, as imagens dos noticiários mostravam homens aos berros, segurando pelo menos dois telefones, em um cenário que diferia pouco de uma arena de gladiadores.

Hoje, tudo o que se vê são salas limpas, cheias de telas e letreiros de sinalização - enigmaticamente, sem ninguém por perto prestando atenção em nada.

O fato é que as negociações financeiras sofreram uma revolução informatizante - toda a ação real mudou-se para o ciberespaço.

A Bolsa de Valores de Nova Iorque, por exemplo, tem hoje uma área de quatro hectares repleta de servidores, cada um rodando milhares de programas, ou corretores-robôs.

Se forem contados os servidores das corretoras que colocam as ordens, a área é equivalente a uma pequena cidade - povoada por robôs informatizados.

Assim, em lugar de negociantes experientes, o que há agora são algoritmos especializados - os algoritmos são a alma, a mente e o cérebro dos robôs negociantes.

E nem tente contratar um robô da concorrência - a negociação informatizada é um mundo inerentemente secreto.

As corretoras mantêm a sete chaves suas estratégias de negociação, cifradas em linguagens de computador.

"Nos velhos tempos, 10 anos atrás, uma mesa de negociantes de ações teria entre 80 e 100 corretores humanos em um banco de investimento. Hoje há talvez oito deles," diz Remco Lenterman, diretor da corretora IMC, na Holanda.

E esses oito restantes não negociam, eles apenas monitoram o trabalho dos robôs.

Negociadores robôs ameaçam estabilidade dos mercados
Gráfico mostrando um mini-flash crash das ações da Google em Abril deste ano.
[Imagem: Nanex]

Flash Crash

Há, no entanto, um lado sombrio nesta corrida para fechar negócios em frações de segundo.

Afinal, programas de computador são programas de computador - eles podem conter bugs, ou podem travar.

E as pessoas que os monitoram podem sair para tomar um cafezinho ou ir ao banheiro, e, mesmo se virem o problema na hora, não conseguirão cancelar o programa antes que ele gere alguns milhares de ordens indevidas.

Há cerca de um ano, a empresa financeira de alta tecnologia Knight Capital quase foi à falência por um algoritmo que saiu dos trilhos, acumulando mais de US$440 milhões de perdas em apenas 45 minutos - antes que um operador humano apertasse Ctrl-Alt-Del.

Talvez o incidente mais famoso tenha sido o Flash Crash, que ocorreu às 14h25 do dia 6 de Maio de 2010, em Nova Iorque, fazendo lembrar o Crash real, ocorrido em 1929.

Em poucos minutos, a Bolsa de Valores de Nova Iorque desabou e, em seguida, assim como caiu, repentinamente recuperou-se novamente. Os preços das ações de algumas empresas, como da consultoria Accenture, caíram para uma fração acima de zero, enquanto cada ação da Apple subiu para US$100.000.

A apuração durou meses, sem que ninguém conseguisse explicar o que tinha dado errado.

A investigação oficial afirmou que a quebra tinha sido desencadeada por uma única ordem, colocada por uma grande instituição, utilizando uma "estratégia de negociação algorítmica" - provavelmente uma rotina recursiva, que chama a si própria em determinada situação.

Mas o que tornou as coisas ruins de vez foi o que se chamou de "efeito batata quente": no meio da confusão, um por um os corretores-robôs tentaram se livrar dos papéis em queda, e os computadores da bolsa de valores não conseguiram lidar com a quantidade de transações.

Robôs sem ética

Mas o episódio está longe de ser um exemplo isolado.

Eric Hunsader, da empresa de análise de dados NANEX, diz que versões em miniatura do Flash Crash acontecem em ações individuais várias vezes por dia.

E ele alega que muito do que ocorre é manipulação direta - algo como robôs negociantes sem ética.

Ele gerou gráficos que retratam o comportamento dos mercados conforme os corretores automatizados tentam superar um ao outro gerando e cancelando rapidamente milhares de ordens por segundo.

"Nós permitimos que as pessoas com conexões mais rápidas coloquem e retirem propostas ou lances mais rápido do que a velocidade da luz poderia fornecer essa informação aos outros participantes do mercado," diz ele.

"Francamente, para a autoridade regulamentadora, é um grande problema tentar pinçar dados que potencialmente poderiam ser abusivos," disse Martin Wheatley, chefe da recém-criada Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido.

Assim, quando você ouvir um especialista falando sobre a racionalidade dos mercados, talvez seja melhor duvidar da racionalidade do especialista.

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