Redação do Site Inovação Tecnológica - 05/03/2024
Limite entre clássico e quântico
Depois da proposta de usar ímãs minúsculos levitando para checar se a gravidade é quântica ou não, a questão secular sobre a fronteira entre a física clássica e a física quântica se aproximou um pouco mais de conseguir uma resposta, graças a um experimento realizado por uma equipe de vários países.
"Para observar fenômenos quânticos em escalas maiores e esclarecer a transição clássica-quântica, as características quânticas precisam ser preservadas na presença de ruído do ambiente. Como você pode imaginar, existem duas maneiras de fazer isso: Uma é suprimir o ruído, e a segunda é reforçar as características quânticas.
"Nossa pesquisa demonstra uma maneira de enfrentar o desafio adotando a segunda abordagem. Mostramos que as interações necessárias para o entrelaçamento entre duas partículas de vidro de tamanho de 0,1 micrômetro, presas opticamente, podem ser amplificadas em várias ordens de grandeza para superar as perdas para o meio ambiente," disse Jayadev Vijayan, da Universidade de Manchester.
O experimento consistiu em colocar as partículas entre dois espelhos altamente reflexivos - eles formam uma cavidade óptica. Desta forma, quaisquer fótons que atinjam uma das partículas saltam entre os espelhos vários milhares de vezes antes de saírem da cavidade, levando a uma chance significativamente maior de que eles interajam com a outra partícula.
"Notavelmente, como as interações ópticas são mediadas pela cavidade, sua resistência não diminui com a distância, o que significa que podemos acoplar partículas em escala micrométrica ao longo de vários milímetros," disse Johannes Piotrowski, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ETH).
Ainda mais interessante para o aprimoramento do experimento, os pesquisadores demonstraram a possibilidade de ajustar ou controlar com precisão a força da interação entre fótons e partículas, o que pode ser feito variando as frequências do laser e a posição das partículas dentro da cavidade.
Uso em sensores
Estes resultados representam um salto significativo para a compreensão da física fundamental, mas também são promissores para aplicações práticas, particularmente na tecnologia de sensores, que podem ser usados para monitoramento ambiental e navegação sem conexão remota.
"A principal força dos sensores mecânicos levitados é sua alta massa em relação a outros sistemas quânticos que usam detecção. A grande massa os torna adequados para detectar forças gravitacionais e acelerações, resultando em melhor sensibilidade. Deste modo, os sensores quânticos podem ser utilizados em muitas aplicações diferentes em vários campos, tais como o monitoramento do gelo polar para investigação climática e a medição de acelerações para fins de navegação," disse o professor Carlos Ballestero, da Universidade Técnica de Viena, na Áustria.
Agora, a equipe planeja acrescentar técnicas de resfriamento quântico bem estabelecidas ao seu experimento, o que será necessário para validar o entrelaçamento quântico entre as partículas usadas, que são muito grandes em relação aos experimentos quânticos tradicionais. Se for bem-sucedido, conseguir o entrelaçamento quântico de nano e de micropartículas deverá diminuir a lacuna entre o mundo quântico e a mecânica clássica cotidiana.