Com informações da New Scientist - 28/08/2012
Celulose nanocristalina
Imagine um material leve, transparente, oito vezes mais forte que o aço inoxidável e com um mercado estimado em US$600 bilhões em 2020.
Não, não estamos falando do grafeno, nem de ligas metálicas especiais e muito menos de compósitos da indústria aeroespacial.
A nova estrela do mundo dos materiais e da nanotecnologia tem, por assim dizer, uma origem simples: ela vem inteiramente da madeira.
É a celulose nanocristalina - ou, como preferem alguns, nanocristais de celulose, ou ainda nanocelulose.
O material é extraído por um processamento da polpa de madeira, resultando em cristais minúsculos - em grande quantidade, esses cristais de nanocelulose parecem-se com neve.
Fábricas de nanocelulose
A nanocelulose está provocando furor na indústria, não apenas por suas propriedades tentadoras, mas também porque é muito barata.
A empresa japonesa Pioneer anunciou que irá utilizar as nanofibras de celulose em sua próxima geração de telas flexíveis. A IBM também está usando a nanocelulose para fabricar componentes de computadores.
O governo do Canadá possui um programa consistente de pesquisas na área, com uma planta-piloto capaz de produzir uma tonelada de nanocelulose por dia, responsável por disseminar as técnicas para as indústrias do país.
No último mês de Julho, foi inaugurada a primeira fábrica de celulose nanocristalina dos EUA. Embora menor que a canadense, a iniciativa também é de um órgão governamental, o U.S. Forest Products Laboratory.
Propriedades da celulose nanocristalina
Mas por que tanto entusiasmo com um material que pouco mais é do que uma madeira super-triturada?
Porque a nanocelulose é transparente e tem oito vezes a resistência à tração do aço inoxidável, graças ao entrelaçamento dos cristais, que têm o formato de agulhas.
Os cristais de nanocelulose conduzem eletricidade, embora, devidamente processados em larga escala, possam resultar em bons isolantes térmicos.
E, claro, sendo fruto unicamente do processamento da madeira, o material é muito barato.
"É uma versão natural e renovável dos nanotubos de carbono, a uma fração do preço," afirma Jeff Youngblood, da Universidade de Purdue, que chefia um dos grupos de pesquisa mais ativos na área.
Ele é um dos coordenadores científicos da fábrica norte-americana, que deverá produzir cristais e fibrilas de nanocelulose.
Fabricação de nanocelulose
A fabricação da celulose nanocristalina começa com uma "purificação" da madeira, removendo compostos como lignina e hemicelulose.
O resultado é moído para formar uma polpa, que é hidrolisada em ácido para remover impurezas, antes de ser separada e concentrada na forma de cristais.
Os cristais de nanocelulose formam uma pasta espessa, que pode ser aplicada a superfícies, na forma de um laminado, ou transformado em filamentos, formando as chamadas nanofibrilas.
As nanofibrilas são duras, densas e rígidas, e podem ser prensadas em diferentes formas e tamanhos. Quando liofilizado, o material é leve, absorvente e bom isolante térmico e acústico.
Como transformar lixo em ouro
"A beleza deste material é que ele é tão abundante que não temos nem que fabricá-lo," diz Youngblood. "Nós não precisamos sequer utilizar árvores inteiras; a nanocelulose tem apenas 2 nanômetros de comprimento. Se quiséssemos, poderíamos usar ramos e galhos, ou até mesmo serragem. Estamos transformando lixo em ouro."
As estimativas indicam que a nanocelulose, produzida industrialmente, poderá custar alguns dólares o quilograma.
Os nanotubos de carbono, por sua vez, com os quais os nanocristais de celulose são comparados, são cotados em miligramas - no atacado, pode-se comprá-los por US$250 o grama.
A expectativa é que a nanocelulose torne obsoletos grande parte dos plásticos, já que suas propriedades físicas permitem que ela substitua até mesmo os metais na construção de peças de automóveis.