Com informações da Agência Fapesp - 14/02/2011
Brasil fora do clima
Nos modelos climáticos globais divulgados no mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), divulgado em 2007, o Pantanal e o Cerrado são retratados como se fossem savanas africanas.
Já fenômenos como as queimadas, que podem intensificar o efeito estufa e mudar as características das chuvas e nuvens de uma determinada região, por exemplo, não são caracterizados por não serem considerados relevantes para os países que elaboraram os modelos numéricos utilizados.
É por isso, e para auxiliar nas pesquisas mundiais sobre as mudanças climáticas e avaliar o impacto que as atividades humanas têm sobre elas, que cientistas brasileiros estão desenvolvendo o Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG).
O esforço congrega cientistas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia sobre Mudanças Climáticas (INCT-MC), do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais e da Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima).
Modelo climático brasileiro
Com conclusão estimada para 2013, o modelo climático brasileiro deverá permitir aos climatologistas realizar estudos sobre mudanças climáticas com base em um modelo que represente processos importantes para o Brasil e que são considerados secundários nos modelos climáticos estrangeiros.
"Boa parte desses modelos internacionais não atende às nossas necessidades. Temos muitos problemas associados ao clima em virtude de ações antropogênicas, como as queimadas e o desmatamento, que não são retratados e que agora serão incluídos no modelo que estamos desenvolvendo no Brasil", explica Gilvan Sampaio de Oliveira, pesquisador Inpe e um dos coordenadores do MBSCG.
Segundo ele, o modelo brasileiro incorporará processos e interações hidrológicas, biológicas e físico-químicas relevantes do sistema climático regional e global.
Dessa forma, possibilitará gerar cenários, com resolução de 10 a 50 quilômetros, de mudanças ambientais regionais e globais que poderão ocorrer nas próximas décadas para prever seus possíveis impactos em setores como agricultura e energia.
"Com esse modelo, teremos capacidade e autonomia para gerar cenários futuros confiáveis, de modo que o país possa se preparar para enfrentar os fenômenos climáticos extremos", disse Sampaio.
Impactos do clima na agricultura
A primeira versão do modelo brasileiro com indicações do que pode ocorrer com o clima no Brasil nos próximos 50 anos deverá ficar pronta até o fim de 2011.
Para isso, os pesquisadores estão instalando e começarão a rodar em fevereiro, no supercomputador Tupã, instalado no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), em Cachoeira Paulista (SP), uma versão preliminar do modelo, com módulos computacionais que analisam os fenômenos climáticos que ocorrem na atmosfera, no oceano e na superfície terrestre.
Os módulos computacionais serão integrados gradualmente a outros componentes do modelo, que avaliarão os impactos da vegetação, do ciclo de carbono terrestre, do gelo marinho e da química atmosférica no clima.
Em contrapartida, um outro componente apontará as influências das mudanças climáticas em cultivares agrícolas como a cana-de-açúcar, soja, milho e café.
"No futuro, poderemos tentar estimar a produtividade da cana-de-açúcar e da soja, por exemplo, frente ao aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera", disse Sampaio.
Contribuição ao IPCC
Segundo o cientista, como a versão final do MSBCG só ficará pronta em 2013, o modelo climático brasileiro não será utilizado no próximo relatório que o IPCC divulgará em 2014, o AR-5.
Mas o modelo que será utilizado pelo Painel Intergovernamental para realizar as simulações do AR5, o HadGEM2, contará com participação brasileira.
Por meio de uma cooperação entre o Hadley Center, no Reino Unido, e o Inpe, os pesquisadores brasileiros introduziram no modelo internacional módulos computacionais que avaliarão o impacto das plumas de fumaça produzidas por queimadas e do fogo florestal sobre o clima global, que até então não eram levados em conta nas projeções climáticas.
Com isso, o modelo passou a ser chamado HadGEM2-ES/Inpe. "Faremos simulações considerando esses componentes que introduzimos nesse modelo", contou Sampaio.
Uso da terra e meteorologia
Em 2013, quando será concluída a versão final do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global, o sistema ganhará um módulo computacional de uso da terra e outro meteorológico, com alta resolução espacial.
No mesmo ano, também serão realizadas as primeiras simulações de modelos regionais de alta resolução para a elaboração de um modelo climático para América do Sul com resolução de 1 a 10 km.
"Até hoje, levávamos meses e até anos para gerar cenários regionais. Com o novo sistema de supercomputação os esforços em modelagem climática regional ganharão outra escala", afirmou Sampaio.