Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/06/2021
Colheita celular
Virtualmente todos os medicamentos e grande parte dos químicos industriais são derivados da natureza, originalmente descobertos em plantas.
Então, por que não ir diretamente às plantas e coletar esses compostos valiosos?
Essa é a ideia do professor Kaare Jensen, da Universidade Técnica da Dinamarca.
Mas Jensen não gosta dos tradicionais processos de extração, sejam químicos ou mecânicos, que geram toneladas de resíduos e exigem etapas caras e demoradas de purificação.
Em vez disso, ele está propondo a ideia de "pescar" os chamados metabólitos diretamente dentro das células das plantas, sem a necessidade de colher, transportar e processar a biomassa.
"Todas as substâncias são produzidas e armazenadas dentro de células individuais na planta. É aí que você tem que ir se quiser o material puro. Quando você colhe a planta inteira ou separa os frutos dos galhos, você também colhe uma grande quantidade de tecido que não contém a substância na qual você está interessado.
"Portanto, há duas perspectivas para isso: Se você quer extrair as substâncias puras, você precisa fazer isso célula por célula. E, quando você pode fazer isso, como mostramos, não precisa colher a planta. Então você pode colocar um pequeno robô e ele pode funcionar sem danificar a planta," explica Jensen.
Microcolheita
A técnica não é muito diferente de pegar uma seringa e puxar uma substância gota por gota.
Só que estamos falando de enfiar uma agulha em células individuais, que medem cerca de 100 micrômetros de diâmetro. Assim, a agulha não pode ter mais do que 10 micrômetros de diâmetro, o que torna virtualmente impossível usar a abordagem manualmente - além de economicamente inviável.
A equipe então criou um sistema robotizado para analisar imagens da planta, reconhecer onde está cada célula e então inserir a agulha célula por célula, de forma a obter precisão e produtividade.
O equipamento começa batendo fotos da planta, que são analisadas pelo sistema de visão artificial e gera dados para controlar o microrrobô, que faz a extração dos metabólitos.
"É tudo feito com uma câmera de microscópio. Para começar, marquei manualmente os píxeis nas imagens de microscopia, que mostram as células que o robô irá colher. Essas informações foram então usadas para treinar um computador para encontrar células semelhantes em novas imagens," conta o pesquisador Magnus Paludan.
Coletar sem derrubar as árvores
Os primeiros experimentos de teste foram feitos em folhas e caules de pequenas plantas, mas a equipe acredita que seu enfoque "gota a gota" pode ser ampliado para operar em larga escala, sem precisar pensar em novas culturas ou em derrubar florestas.
Além de coletar compostos de interesse biomédico, a equipe acredita que é possível pensar até mesmo em coletar biocombustíveis.
"Nas florestas do norte do Canadá e da Rússia existem florestas de abetos com cerca de 740 bilhões de árvores, que estão completamente intocadas. Isso é cerca de 25% do número total de árvores do planeta. Com o desenvolvimento dessa tecnologia, podemos fazer extração de açúcar e biocombustível sem derrubar ou danificar as árvores," aposta Jensen.