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Material orgânico em meteorito de Marte não tem origem biológica

Redação do Site Inovação Tecnológica - 14/01/2022

Meteorito de Marte tem material orgânico, mas não de origem biológica
Este é o famoso meteorito Allan Hills 84001, que trouxe moléculas orgânicas de Marte - mas não originárias de seres vivos.
[Imagem: NASA/JSC/Stanford University]

Meteorito ALH84001

O famoso meteorito marciano chamado Allan Hills 84001 (ALH84001), descoberto na Antártica em 1984, possui componentes orgânicos - à base de carbono - mas esses componentes não têm origem biológica.

Este é o veredito de uma equipe liderada por Andrew Steele, da Instituição Carnegie, em um artigo publicado hoje pela revista Science.

A pesquisa também confirma que os compostos foram de fato sintetizados em Marte, e não na Terra, mas que eles se originam de interações entre água e as rochas de Marte, ocorridas mais de 4 bilhões atrás.

Não é a primeira vez que esse meteorito chega às manchetes. Em 1996, um grupo de cientistas da NASA publicou um artigo na mesma revista Science anunciando a "descoberta" de indícios biogênicos - estruturas geradas por processos biológicos - no meteorito ALH84001.

Mas o anúncio foi logo rebatido, com outras equipes defendendo que os meteoritos de Marte têm moléculas orgânicas, mas não biológicas.

Bióticas ou abióticas?

Moléculas orgânicas contêm carbono e hidrogênio e, às vezes, incluem oxigênio, nitrogênio, enxofre e outros elementos. Os compostos orgânicos são comumente associados à vida, embora também possam ser criados por processos não biológicos, originando-se da chamada química orgânica abiótica.

Há anos os cientistas debatem a história da origem do carbono orgânico encontrado no meteorito Allan Hills 84001, com as hipóteses incluindo vários processos abióticos relacionados à atividade vulcânica, eventos de impacto em Marte ou exposição hidrológica, bem como potencialmente os remanescentes de formas antigas de vida em Marte ou a contaminação do meteorito em seu pouso na Terra.

Para contribuir com a discussão, a equipe de Steele afirma ter usado uma variedade de técnicas sofisticadas de preparação e análise das amostras - incluindo imagens em nanoescala colocalizadas, análise isotópica e espectroscopia - para revelar a origem das moléculas orgânicas presentes no meteorito.

Geoquímica marciana

A equipe encontrou evidências de interações água-rocha semelhantes às que acontecem na Terra. As amostras indicam que as rochas marcianas passaram por dois importantes processos geoquímicos: Um, chamada serpentinização, ocorre quando rochas ígneas, ricas em ferro ou magnésio, interagem quimicamente com a água circulante, alterando sua mineralogia e produzindo hidrogênio no processo. O outro, chamada carbonização, envolve a interação entre rochas e água levemente ácida, contendo dióxido de carbono dissolvido, e resulta na formação de minerais carbonáticos.

Não está claro se esses processos foram induzidos pelas condições aquosas circundantes simultaneamente ou sequencialmente, mas os indícios apontam que as interações entre água e rochas não ocorreram durante um período prolongado.

O que fica evidente, porém, é que as reações produziram a matéria orgânica a partir da redução do dióxido de carbono, e não por reações envolvendo organismos vivos.

Moléculas orgânicas também já foram detectadas pela equipe em outros meteoritos marcianos e em seu trabalho com a equipe do instrumento SAM (Sample Analysis at Mars) no rover Curiosity, indicando que a síntese abiótica de moléculas orgânicas tem sido parte da geoquímica marciana durante grande parte da história do planeta.

Existem alegações da existência de moléculas orgânicas de origem biológica em um outro meteorito marciano, o Yamato 000593 (Y000593).

Bibliografia:

Artigo: Organic synthesis associated with serpentinization and carbonation on early Mars
Autores: Andrew Steele, L. G. Benning, R. Wirth, A. Schreiber, T. Araki, F. M. McCubbin, M. D. Fries, L. R. Nittler, J. Wang, L. J. Hallis, P. G. Conrad, C. Conley, S. Vitale, A. C. O’Brien, V. Riggiand K. Rogers
Revista: Science
Vol.: 375, Issue 6577 - pp. 172-177
DOI: 10.1126/science.abg7905
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