Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/06/2023
O problema
Assim como a spintrônica ou a fotônica, a magnônica oferece uma rota para o avanço das tecnologias da informação no que diz respeito à velocidade, arquitetura do processador e menor consumo de energia.
Cada elétron tem um momento magnético, chamado spin, que deu origem à spintrônica. Mas há também um comportamento coletivo, quando os spins de elétrons adjacentes comportam-se de maneira ordenada, criando uma onda - uma onda de spins.
Um magnon corresponde à quantidade específica de energia necessária para alterar a magnetização de um material por meio dessas ondas de spin.
Por interagirem com campos magnéticos, os magnons podem ser usados para codificar e transportar dados sem ser necessário gerar fluxos de elétrons, que envolvem perda de energia por aquecimento (conhecido como aquecimento Joule) do condutor usado.
"Com o advento da inteligência artificial, o uso da tecnologia de computação aumentou tanto que o consumo de energia ameaça seu desenvolvimento. Uma questão importante é a arquitetura de computação tradicional, que separa processadores e memória. As conversões de sinal envolvidas na movimentação de dados entre diferentes componentes retardam a computação e desperdiçam energia," explica o professor Dirk Grundler, da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça.
A solução
Essa ineficiência, conhecida como gargalo de Von Neumann - Von Neumann é o nome da arquitetura dos computadores atuais -, tem feito com que os pesquisadores busquem novas arquiteturas de computação que possam atender melhor às demandas dos megadados.
Agora, Grundler e seu colega Korbinian Baumgaertl acreditam ter tropeçado em um "santo graal" que iluminará o caminho a seguir.
Com outras intenções, a dupla estava fazendo experimentos com uma pastilha disponível comercialmente do isolador ferrimagnético granada de ítrio-ferro (YIG), sobre a qual eles haviam sobreposto tiras muito finas, em escala nanométrica, de materiais magnéticos.
Foi aí que eles perceberam que seus experimentos, que usavam unicamente sinais de radiofrequência, estavam induzindo ondas de spin em frequências específicas, na faixa dos gigahertz. Melhor do que isso, bastava controlar as ondas de rádio para gerar ou reverter a magnetização dos nanoímãs de superfície.
"As duas orientações possíveis desses nanoímãs representam os estados magnéticos 0 e 1, o que permite que a informação digital seja codificada e armazenada," explicou Grundler.
"Agora podemos mostrar que as mesmas ondas que usamos para processamento de dados podem ser usadas para chavear as nanoestruturas magnéticas, de modo que também tenhamos armazenamento magnético não-volátil dentro do mesmo sistema," acrescentou o pesquisador, destacando que "não-volátil" refere-se ao armazenamento estável de dados durante longos períodos de tempo sem necessidade do fornecimento contínuo de energia.
Computação na memória
É essa capacidade de processar e armazenar dados no mesmo componente que dá à técnica seu potencial para mudar o atual paradigma de arquitetura de computação, pondo fim à separação entre processadores e memórias, viabilizando a chamada computação na memória.
Teoricamente, a abordagem magnônica pode processar dados na faixa dos terahertz, enquanto os computadores atuais funcionam na faixa de gigahertz. No entanto, ainda será preciso demonstrar isso experimentalmente.
"A promessa desta tecnologia para uma computação mais sustentável é enorme. Com esta publicação, esperamos reforçar o interesse na computação baseada em ondas e atrair mais jovens pesquisadores para o crescente campo da magnônica," disse Grundler.