Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/03/2017
Íons em vez de elétrons
O interesse em construir computadores com um funcionamento mais parecido com o nosso cérebro - os chamados processadores neuromórficos - pode necessitar de uma abordagem ligeiramente diferente daquele permitido pela eletrônica.
Ocorre que nosso cérebro não é eletrônico, ele é mais "ionotrônico" - nossos neurônios se comunicam por sinapses, cujos sinais químicos são trocados por meio de íons, e não de elétrons.
E pesquisadores finlandeses já estão dando os primeiros passos rumo à construção de dispositivos de computação ionotrônicos sintéticos. Eles estão começando pela criação das memórias, uma parte fundamental de qualquer computador.
Para isso, a equipe desvendou como a migração de um íon de oxigênio em um material cerâmico faz com que o material altere sua estrutura cristalina de uma maneira uniforme e reversível, apresentando fortes modulações da resistência elétrica - essencialmente um processo de troca de resistência que pode ser a base de uma memória de acesso aleatório (RAM).
Ionotrônica
A migração dos íons de oxigênio para longe da área onde os eletrodos aplicam a tensão elétrica resulta em uma mudança abrupta na estrutura atômica do material, fazendo com sua resistência elétrica aumente. Invertendo a polaridade da tensão aplicada, as propriedades do material original são restauradas completamente.
Simulações eletrotérmicas mostram que esse efeito de comutação, ou chaveamento, é produzido por uma combinação do aquecimento da amostra, induzida pela corrente, com a migração dos íons, dirigida pelo campo elétrico.
"O material que investigamos neste estudo é um óxido complexo. Os óxidos complexos podem exibir muitas propriedades físicas interessantes, incluindo magnetismo, ferroeletricidade e supercondutividade, e todas essas propriedades variam sensivelmente com o estado de oxidação do material. Apesar de termos demonstrado correlações diretas entre o conteúdo de oxigênio, a estrutura cristalina e a resistência elétrica, o mesmo conceito ionotrônico poderia ser utilizado para controlar outras propriedades materiais," disse o professor Sebastiaan van Dijken.
Trônicas
A equipe pretende agora aplicar esses conhecimentos e, principalmente, os equipamentos que eles desenvolveram para obtê-lo, para analisar materiais como as perovskitas e outros compostos usados na optoeletrônica.
Não se espera que a ionotrônica comece a produzir frutos antes de vários anos de pesquisas, mas ela vem se juntar a um conjunto de campos emergentes, como a atomotrônica, a piezoeletrônica e a valetrônica.
Somente esses anos de pesquisa à frente dirão se algum deles despontará como uma alternativa mais eficiente à eletrônica, ou se cada um encontrará seu próprio nicho de aplicações.