Com informações da Agência Brasil - 07/02/2018
Salto tecnológico
Dos 24 setores da indústria brasileira, 14 precisam dar um salto tecnológico para se adaptar ao que vem sendo chamado por empresas e organismos internacionais de "Indústria 4.0".
A avaliação é de um relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O estudo analisou taxas de produtividade, exportação, importação e inovação de diversos segmentos industriais brasileiros e realizou uma comparação com as 30 maiores economias do mundo para avaliar a situação das empresas nacionais nos mercados interno e externo.
Salto de longa distância
O termo "Indústria 4.0" passou a ser utilizado nos últimos anos para designar a integração de diversos tipos de tecnologias no processo produtivo. Entre elas estão a chamada Internet das Coisas; a coleta e o processamento de dados em larga escala (conhecidos internacionalmente como Big Data, ou megadados), a impressão 3D, a robótica avançada e a inteligência artificial.
A implantação destes recursos faria parte de uma nova forma de organização industrial vinculada a uma transformação mais profunda dos mercados apelidada de "Quarta Revolução Industrial" pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e por outros fóruns internacionais.
A ideia foi lançada sobretudo em países europeus, como forma de buscar a ampliação da produtividade sem redução de custo da força de trabalho e a manutenção da competitividade frente ao ascenso de novos polos produtivos, como a China.
Segundo a pesquisa da CNI, ainda estão longe de chegar a esse patamar as indústrias brasileiras dos setores de impressão e reprodução; farmoquímicos e farmacêuticos; químicos; minerais não-metálicos; couro e calçados; vestuário e assessórios; têxteis; máquinas e aparelhos elétricos; outros equipamentos de transporte; produtos de metal; máquinas e equipamentos; móveis; artigos de borracha e plástico; e produtos diversos.
Em termos de produtividade, ficam acima da média dos demais países analisados apenas os segmentos extrativista; de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis; de metalurgia; e de fumo. Já quando considerada a taxa de inovação, o desempenho superior às demais economias ocorre nas indústrias extrativista, alimentícia e de móveis.
O estudo destaca que a adaptação a esta nova organização é diferente em cada segmento, mas que este fenômeno é uma realidade e todos os ramos precisam se atualizar para seguir competindo nos mercados interno e externo.
Conceito importado
Para o professor de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ricardo Antunes, autor de livros sobre as mudanças no mundo do trabalho, a noção de Indústria 4.0 foi elaborada a partir de uma realidade das economias mais ricas, como a Alemanha, e não pode ser importada para os países do chamado "Sul Global", que não possuem destaque em mercados tecnológicos de ponta.
"Em países como Brasil e Índia, se você avança digitalmente sem ter uma regulação social e de garantia de direitos sociais, você aumenta ainda mais as condições de precarização do trabalho e vai criar um fosso entre setores industriais avançados pequenos, em um nível europeu, e uma área industrial poluente e com péssimas condições, como a extrativista e o agronegócio," ponderou.
Outros riscos, acrescenta Antunes, são a redução de postos de trabalho por meio da robótica e a piora da qualidade do trabalho. "Há um processo de desaparecimento da barreira entre a vida privada e a pública, porque a pessoa vai para casa e continua disponível para as demandas, cumprindo metas em um volume de trabalho crescente", afirma.