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Incubadoras brasileiras avançam para o interior

Guilherme Gorgulho - Inovação Unicamp - 23/07/2012


Interiorização tecnológica

Um estudo divulgado ontem mostra que dois terços das incubadoras de empresas do Brasil têm foco na área tecnológica, de alto valor agregado.

E cada vez mais as incubadoras estão se disseminando pelo interior do País, revertendo uma característica de concentração desses núcleos de empresas emergentes nas capitais.

Nas 27 unidades da federação, há atualmente 384 incubadoras, mas houve uma redução no setor desde 2007, quando esse número chegou a 400 incubadoras.

Os dados são do documento "Estudo, Análise e Proposições sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil", lançado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

Uma reportagem publicada em maio, com base em resultados prévios do estudo, mostrou que 55% das empresas incubadas inovam para o mercado nacional, enquanto 28% inovam para o mercado local e 15% disseram produzir inovações em âmbito mundial.

Os dados foram obtidos a partir da revisão de estudos anteriores e aplicação de questionários em uma amostra de 60 incubadoras, o que garantiu à pesquisa uma margem de erro de dois a três pontos percentuais, de acordo com o relatório técnico.

O estudo, coordenado pela economista Maria Alice Lahorgue, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também incluiu a realização entrevistas, em 2011, com 23 gestores de todas as regiões do País para levantamento e confirmação de dados.

Descentralização das incubadoras

Maria Alice explicou que, como as incubadoras são ligadas diretamente às universidades, esses núcleos estão seguindo o processo de interiorização que vem ocorrendo com as instituições de ensino superior.

"Nos próximos dois anos nós teremos uma nova leva de interiorização com a criação de novos IFs [Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia], que estão sendo instalados basicamente no interior", afirmou.

Das incubadoras que serviram de amostra para a pesquisa, 45% estão instaladas em capitais de Estado ou no Distrito Federal e o restante em cidades do interior, o que demonstra certo equilíbrio na distribuição.

Um estudo anterior feito pela economista, em 2004, identificou que as incubadoras da capital têm um perfil diferenciado daquelas do interior; enquanto as primeiras eram mais voltadas para inovações radicais, as segundas atuavam principalmente com inovações incrementais. O documento que está sendo lançado agora não se debruça sobre esse ponto, mas a coordenadora pretende dar continuidade aos estudos a partir dos dados já levantados.

Perfil tecnológico

A tecnologia é o foco principal para 67% das incubadoras, enquanto apenas 15% desses núcleos de empreendedorismo são voltados para a economia solidária e 13% deles reúnem empresas que atuam com produtos ou tecnologias tradicionais.

Entre as 2.640 empresas incubadas no País, a média de emprego gerado por firma é de 7,28 postos de trabalho. Esse índice sobe para 12,69 empregados para as companhias que atingem a maturidade, as chamadas empresas graduadas, que já percorreram todas as fases de uma incubada e estão aptas a enfrentar o mercado com instalações físicas próprias.

Um dos principais objetivos do estudo é traçar um perfil desses núcleos voltados à inovação, que agregam companhias ou empreendimentos nascentes para compartilhar infraestrutura, serviços e apoio gerencial e técnico, além de dividir custos de operação.

Os dados do estudo mostram que metade das incubadoras tem até oito anos de existência, a maior parte delas com idade entre três e cinco anos. Outro ponto importante diz respeito às fontes de receitas, que são oriundas principalmente das entidades gestoras e públicas.

Entre as pesquisadas, 27% não têm receita própria e em apenas 11% delas a receita própria contribui com mais da metade da receita total da incubadora.

Financiamento para incubação

Maria Alice Lahorgue aponta a questão da redefinição de políticas públicas como um dos pontos centrais do debate, pois todo o financiamento para incubação de empresas, no âmbito governamental, é originado do MCTI, seja por recursos da própria pasta, seja da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), seja do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

No entanto, alerta a pesquisadora, o conceito de inovação que permeia a atividade das incubadoras vai além da inovação tecnológica, incluindo setores tradicionais, agroindústria e economia solidária, entre outros.

Para Maria Alice, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) tem tido "uma participação muito marginal" no processo de financiamento. "Deveria haver uma liberação do MCTI muito mais voltada para inovação via spin-offs da pesquisa, por exemplo, enquanto o MDIC poderia fazer o fomento da outra parte", sugere, citando o caso dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), dos setores mais tradicionais e das incubadoras mistas.

Ela destaca que esses setores menos ligados à ciência e à tecnologia têm se beneficiado com o fomento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mas não de agências governamentais. "Nós temos uma diversidade muito grande de tipos de incubadoras e de tipos de negócios incubados, mas o financiamento e a política de fomento não têm uma visão clara desse fato. O que se procura também com esse estudo é desvendar as diferenças e colocar sobre a mesa a necessidade justificada de se pensar políticas que abranjam o conjunto do processo de incubação."

As universidades e os institutos de pesquisa são as principais entidades a que as incubadoras brasileiras estão vinculadas, seguidos pelas prefeituras e governos estaduais.

Desempenho das incubadoras

Uma das formas de se mensurar o papel desempenhado por esses núcleos de empreendimentos emergentes na sociedade é pelos objetivos declarados pelas próprias incubadoras.

O estudo revela que os objetivos mais citados pela pesquisa foram: dinamização da economia local; criação de spin-offs; dinamização de setor específico de atividade; inclusão socioeconômica; e geração de emprego e renda.

A coordenadora do estudo afirma que durante muitos anos o setor de incubadoras no Brasil apresentou um vigoroso crescimento anual de dois dígitos, chegando até a marca de 20%, mas que esse número sofreu uma desaceleração.

"O sistema de incubação no Brasil atingiu a sua maturidade. Hoje está muito mais refreado o 'efeito moda', em que ter uma incubadora dava status, por ser interessante em termos de imagem pública. Atualmente, com a maturidade, sabe-se que a incubadora tem um fim que é criar empresas de sucesso. E não é qualquer empresa, é uma que traga benefícios para a sociedade, e isso impõe alguns dispêndios, que as pessoas começam a perceber melhor", conclui Maria Alice.

Para ela, pode-se dizer hoje que o setor está estruturado e conta com padrões claros de qualidade, mas ainda falta definir uma certificação para as incubadoras, o que prevê ocorrer nos próximos cinco anos.

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