Redação do Site Inovação Tecnológica - 26/04/2012
Glicina ferroelétrica
A fronteira entre a eletrônica e a biologia está ficando cada vez mais nebulosa.
Há cerca de dois meses, causou surpresa a descoberta da ferroeletricidade no coração de mamíferos.
A surpresa agora deve ser muito maior, porque o mesmo fenômeno, a ferroeletricidade, acaba de ser descoberto no mais simples aminoácido que se conhece, a glicina.
Andrei Kholkin, da Universidade de Aveiro, em Portugal, liderou uma equipe internacional que usou uma combinação de experimentos e modelagem por computador para identificar e explicar essa mudança na polarização de um composto biológico quando ele é submetido a uma corrente elétrica.
Equipamentos bioeletrônicos
Embora já se soubesse que determinadas moléculas biológicas, como a própria glicina, podem ser piezoelétricas - a geração de eletricidade quando o material é pressionado mecanicamente -, a ferroeletricidade é muito mais rara no mundo biológico.
Por isso os cientistas ainda não conseguem vislumbrar todas as aplicações potenciais dos biomateriais ferroelétricos.
"A descoberta da ferroeletricidade [na glicina] abre a possibilidade de novas classes de equipamentos bioeletrônicos e de memória, onde a inversão da polarização poderá ser usada para gravar e recuperar informações," disse Sergei Kalinin, coautor do estudo.
Kholkin, o líder da pesquisa, também aposta nas memórias: "Esta pesquisa abre o caminho para a construção de dispositivos de memória feitos de moléculas que já existem em nossos corpos".
Ele não está pensando em pentes de memória para computadores, mas em formas de guiar nanorrobôs através de nossos corpos, ou de medicamentos que possam encontrar o ponto exato onde são necessários, virtualmente eliminando os efeitos colaterais, que ocorrem porque os remédios atuais vão a todo o corpo, sobretudo a áreas que não precisam deles.
Conversão eletromecânica
"É claro que estamos muito distantes de estudar o acoplamento eletromecânico em nível molecular para construir um nanomotor que possa fluir em nosso sangue," reconhece o pesquisador.
"Mas, a menos que você tenha um meio de construir esse motor e estudá-lo, nunca haverá um segundo ou um terceiro passo. Nossa técnica pode oferecer um meio de estudar quantitativamente e de forma reproduzível essa conversão eletromecânica," acrescenta.