Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/10/2022
Tempestades solares
Em setembro de 1859, uma poderosa tempestade magnética solar, conhecida como Evento Carrington, atingiu a Terra e causou danos na rede então existente - e, naquela época, eram somente cabos telegráficos.
A rede ficou inoperante, pegou fogo em diversos locais, telegrafistas receberam choques e as auroras boreais foram vistas até no Havaí.
Há mais dois exemplos de impactos de tempestades solares fortes nos últimos tempos, em Quebec, no Canadá, em 1989, e em Malmo, na Suécia, em 2003, mas ambas muito mais fracas do que o Evento Carrington.
As estimativas são de que, quando ocorrer outro evento daquela magnitude, ou maior, todas as comunicações, por satélite ou ondas de rádio, em suas diversas frequências, além das redes elétricas, deverão ser fortemente impactadas, com consequências difíceis de se prever.
Evento de Miyake
Mas nada se compara a um Evento Miyake, um tipo catastrófico de evento cósmico que Fusa Miyake e colegas da Universidade de Nagoia, no Japão, descobriram ter ocorrido no ano 774 ou 775 da nossa era.
Em um trabalho publicado em 2012, Miyake identificou nos anéis de crescimento das árvores um pico de carbono-14 que é tão forte que não poderia ter sido causado sequer pela tempestade solar mais forte que os cientistas calculam ser possível.
Assim, tudo indica que a chuva de radiação misteriosa, imprevisível e potencialmente devastadora que atingiu a Terra só pode ter tido origem em algum evento astrofísico.
Agora, Qingyuan Zhang e colegas da Universidade de Queensland, na Austrália, decidiram que era hora de elucidar melhor essas "tempestades de radiação".
Tempestade de radiação
Quando Zhang aplicou as mais modernas ferramentas estatísticas aos anéis de árvores milenares, ele descobriu que os Eventos Miyake ocorreram aproximadamente uma vez a cada mil anos - ou seja, o próximo já está atrasado.
"Quando a radiação atinge a atmosfera, ela produz carbono-14 radioativo, que passa pelo ar, oceanos, plantas e animais, e produz um registro anual de radiação nos anéis das árvores. Nós modelamos o ciclo global de carbono para reconstruir o processo ao longo de um período de 10.000 anos, para obter informações sobre a escala e a natureza dos Eventos Miyake," explicou o pesquisador.
Além de trazer a primeira estimativa da frequência desses eventos, os dados descartam de vez a hipótese de que o evento do ano 774 teria sido causado por uma tempestade solar descomunal.
"Demonstramos que [os eventos registrados nos anéis das árvores] não estão correlacionados com a atividade das manchas solares, e alguns na verdade duram um ou dois anos. Em vez de uma única explosão ou erupção instantânea, o que podemos estar vendo é uma espécie de 'tempestade' ou explosão astrofísica," disse Zhang.
Invertendo as ferramentas estatísticas, passando da análise dos dados passados para a previsão de eventos futuros, a equipe concluiu que a chance de que um Evento Miyake ocorrer nos próximos 10 anos é menor do que 1%. "Mas nós não sabemos como prevê-los ou que danos eles podem causar," salientou o professor Benjamin Pope.