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Era do Gelo na Terra pode ter sido causada por nuvem cósmica

Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/06/2024

Era do Gelo na Terra pode ter sido causada por nuvem cósmica
Por um breve período de tempo, há milhões de anos, a Terra pode ter sido expulsa do escudo protetor de plasma do Sol, chamado heliosfera.
[Imagem: Merav Opher et al. - 10.1038/s41550-024-02279-8]

Era do gelo cósmico

Há cerca de dois milhões de anos, a Terra era um lugar muito diferente, com os nossos primeiros antepassados humanoides vivendo ao lado de tigres dente-de-sabre, mastodontes e roedores enormes. E o frio era uma constante: a Terra congelou profundamente, com múltiplas eras glaciais indo e vindo até cerca de 12 mil anos atrás.

A teoria mais aceita para explicar essas eras do gelo se fundamenta nos chamados Ciclos de Milankovitch, proposta pelo geofísico Milutin Milankovitch (1879-1958) no início do século XX. A teoria de Milankovitch propõe que as eras glaciais são causadas por variações na órbita e na inclinação do eixo da Terra, que influenciam a quantidade de radiação solar recebida em diferentes partes do planeta. Essas variações ocorrem em ciclos de milhares de anos. Mudanças nas placas tectônicas, erupções vulcânicas e níveis de dióxido de carbono na atmosfera completam o quadro, reforçando ou atenuando os efeitos.

Agora, um trio de pesquisadores está propondo uma teoria completamente diferente, transferindo a responsabilidade pelas eras do gelo para o caminho que o Sistema Solar segue conforme gira por seu próprio caminho pela galáxia, e junto com ela pelo espaço intergaláctico.

Merav Opher e seus colegas encontraram evidências de que, há cerca de dois milhões de anos, o Sistema Solar atravessou uma nuvem interestelar tão densa que ela pode ter interferido com o vento solar, reduzindo a intensidade da radiação do Sol que chega até a Terra.

Era do Gelo na Terra pode ter sido causada por nuvem cósmica
Mapear as nuvens frias é crucial para conhecer o caminho pelo qual o Sol passa.
[Imagem: Merav Opher et al. - 10.1038/s41550-024-02279-8]

Nuvem Local de Nuvens Frias

Todo o Sistema Solar está envolto em um escudo protetor de plasma que emana do Sol, conhecido como heliosfera. Esse escudo é feito de um fluxo constante de partículas carregadas, o vento solar, que se estende bem além de Plutão, envolvendo os planetas em uma espécie de bolha gigante, protegendo-nos da radiação e dos raios galácticos. Como esses raios podem alterar o DNA, os cientistas acreditam que a heliosfera é parte da equação responsável pelo desenvolvimento da vida na Terra.

De acordo com a nova teoria, a nuvem fria comprimiu a heliosfera de tal forma que colocou brevemente a Terra e os outros planetas do Sistema Solar fora da sua influência.

Opher e seus colegas olharam para trás no tempo utilizando modelos computadorizados para visualizar onde o Sol estava posicionado há dois milhões de anos - e, com ele, a heliosfera e o resto do Sistema Solar. Eles também mapearam o caminho de uma série de nuvens grandes, densas e muito frias, compostas principalmente por átomos de hidrogênio, conhecidas como Fita Local de Nuvens Frias. As simulações mostraram que uma das nuvens, localizada perto do final dessa fita, chamada Lince Local de Novem Fria, pode ter colidido com a heliosfera do Sistema Solar.

Se isso realmente aconteceu, a Terra teria ficado totalmente exposta ao meio interestelar, onde gás e poeira se misturam com os restos de elementos atômicos de estrelas que explodiram, incluindo ferro e plutônio. Normalmente, a heliosfera filtra a maioria dessas partículas radioativas. Mas, sem proteção, elas podem facilmente chegar à Terra.

De acordo com os pesquisadores, isto está alinhado com evidências geológicas que mostram aumento dos isótopos ferro 60 (60Fe) e plutônio 244 (244Pu) nos oceanos, na neve antártica, nos núcleos de gelo e até na Lua, nesse mesmo período. O tempo também corresponde à época dos registros de temperatura que indicam um período de resfriamento.

"Só raramente a nossa vizinhança cósmica além do Sistema Solar afeta a vida na Terra," disse o professor Avi Loeb, da Universidade de Harvard e coautor do artigo. "É emocionante descobrir que a nossa passagem através de nuvens densas há alguns milhões de anos atrás pode ter exposto a Terra a um fluxo muito maior de raios cósmicos e átomos de hidrogênio. Os nossos resultados abrem uma nova janela para a relação entre a evolução da vida na Terra e nossa vizinhança cósmica."

Rumo ao passado

Não sabemos exatamente o formato da Nuvem Lince, e também é impossível saber o efeito exato que a nuvem fria teve na Terra - se ela poderia ter realmente desencadeado uma era glacial, por exemplo.

Mas os pesquisadores afirmam que sua ideia ainda assim é razoável, já que existem algumas outras nuvens frias no meio interestelar que o Sol provavelmente encontrou nos bilhões de anos desde sua origem. E isso provavelmente voltará a acontecer daqui a um milhão de anos ou mais.

Por isso a equipe está agora trabalhando para rastrear onde o Sol estava há sete milhões de anos, e depois tentará estender esse período ainda mais rumo ao passado, usando dados recolhidos pelo observatório Gaia, da Agência Espacial Europeia, que está construindo o maior mapa 3D da Via Láctea, o que envolve medir a velocidade de deslocamento das estrelas.

Bibliografia:

Artigo: A possible direct exposure of the Earth to the cold dense interstellar medium 2-3Myr ago
Autores: Merav Opher, Abraham Loeb, J. E. G. Peek
Revista: Nature Astronomy
DOI: 10.1038/s41550-024-02279-8
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