Com informações da Agência Fapesp - 01/02/2019
Empresas brasileiras inovadoras
Você acha que o Brasil não conta com empresas inovadoras?
A maior cervejaria do mundo utilizará uma tecnologia da I.Systems para aumentar a eficiência das linhas de produção em suas fábricas nos Estados Unidos. O Departamento de Defesa (DoD) dos Estados Unidos escolheu a Griaule Biometrics como fornecedora de sistema de identificação e certificação de dados biométricos de mais de 80 milhões de cidadãos do Iraque e Afeganistão. E a GM norte-americana, assim como a Peugeot, na Alemanha, adotaram recentemente sistema inteligente de inspeção de qualidade de peças desenvolvido pela Autaza Tecnologia.
Além do apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, essas empresas têm em comum a mesma visão de negócios: a de que a inovação tecnológica não deve conhecer fronteiras.
"A FAPESP espera e incentiva que as empresas do PIPE tenham alvos mundiais, o que é levado em conta na seleção dos planos de negócios dos projetos de pesquisa mais promissores. Romper os limites do mercado interno precisa ser um desafio permanente para a indústria no Brasil, especialmente quando beneficiada por subsídios com recursos do contribuinte", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da fundação paulista.
"O processo de internacionalização da I.Systems começou em 2016, quando introduzimos a Leaf na mineradora BHP, na Austrália", conta Igor Santiago, presidente da empresa instalada em Campinas. Produto de estreia da I.Systems no mercado, a tecnologia Leaf utiliza inteligência artificial para o controle e estabilização de processos industriais. Mas foi com o seu segundo produto, o Flowe, baseado em aprendizado de máquina, que a empresa chegou à Ambev, que por sua vez a recomendou à sua holding, a AB Inbev, a maior cervejaria do mundo.
A multimodalidade do software desenvolvido pela Griaule - identifica indivíduos por impressões digitais e palmares, voz, imagens faciais e íris - garantiu à empresa de Campinas um contrato de US$ 75 milhões com o DoD em setembro do ano passado. No mês seguinte, a empresa foi escolhida também pelo Departamento de Segurança Pública do estado norte-americano do Arizona para auxiliar investigações policiais e de antecedentes criminais de funcionários públicos.
O caráter inovador do sistema de inspeção inteligente abriu à Autaza, de São José dos Campos, os mercados norte-americano e europeu. A história remonta a 2016, quando três pesquisadores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) desenvolveram, em parceria com a General Motors (GM), em São Caetano do Sul, o protótipo de sistema que utiliza visão computacional e inteligência artificial para detectar defeitos na carroceria de veículos, em substituição à inspeção visual.
Além de testar a tecnologia, a GM autorizou o uso da propriedade intelectual do sistema - assim constituiu-se a Autaza - e ainda o adotou nas fábricas dos Estados Unidos e da Alemanha, onde, até 2017, produzia a marca Opel - a unidade alemã foi posteriormente vendida para a Peugeot e BNP Paribas, mas segue cliente da Autaza. A mesma tecnologia de inspeção inteligente também é utilizada para identificar defeitos na pintura de materiais compósitos utilizados pela aeronáutica, o que abriu à empresa um outro mercado, trazendo clientes do porte da Embraer.
Várias outras empresas apoiadas pela FAPESP já se instalaram fisicamente no mercado norte-americano. É o caso da Finamac, fabricante de máquinas de sorvete, em São Paulo, com 60 empregados. "Tínhamos um escritório nos Estados Unidos e, agora, temos também um galpão e cinco funcionários responsáveis pela montagem dos equipamentos", diz Marino Arpino, fundador da Finamac.
Outro exemplo é o da Agrosmart, de manejo integrado de pragas, instalada em Campinas, com clientes no México, Guatemala, Peru, Honduras Colômbia e Israel e que, recentemente, instalou uma subsidiária nos Estados Unidos. "O carro-chefe de nossas vendas externas são as tecnologias de monitoramento climático, envolvendo controle de pragas e previsão meteorológica, que utilizam inteligência artificial para soluções mais assertivas," diz Marcus Sato, engenheiro agrônomo da empresa.
Inovações para o mercado externo
Algumas das empresas emergentes de alta tecnologia brasileiras conceberam sua inovação mirando o mercado externo. A Hoobox Robotics, que desenvolveu plataforma de reconhecimento facial, batizada com o nome de Wheelie, que traduz expressões do usuário em comandos para cadeira de rodas, arquitetou seu plano de negócios de olho em demanda dos Estados Unidos. Hoje, a empresa tem cerca de 60 clientes em 14 estados norte-americanos e "uma lista de espera de 300 pessoas", conforme Paulo Gurgel Pinheiro, CEO da Hoobox.
A CFlex, de Campinas, também tem, atualmente, clientes exclusivamente no exterior. A empresa desenvolveu ferramenta de planejamento de tráfego ferroviário - que permite a gestão da circulação dos trens, cruzamentos, tempos de parada, alocação de equipe de maquinista, dentre outros, implantada na mineradora Rio Tinto, na Austrália; na Ferrosur Roca, na Argentina; e na Empresa de los Ferrocarriles del Estado (EFE), no Chile.
A inserção de um produto nos mercados nacional ou internacional pode exigir certificações, seja da empresa ou do produto. A Kryptus, empresa de segurança de informação instalada em Campinas - que tem entre seus clientes no Brasil a Savis, subsidiária da Embraer, o Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército de Brasileiro (CCOMGEX) e a Mectron Comm, entre outras -, é qualificada como Empresa Estratégica de Defesa (EED) pelo Ministério da Defesa, e alguns de seus produtos são homologados junto à ICP-Brasil - Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).
Apoiada pela FAPESP, a empresa desenvolveu um módulo criptográfico de alto desempenho (HSM), testou a viabilidade técnica de sua aplicação em nuvem e preparou o produto para a sua comercialização no mercado interno e externo.