Com informações da Agência Fapesp - 30/05/2014
A ideia de que a inovação é um fenômeno econômico fundamental para o desenvolvimento parece ser consenso entre os empresários brasileiros.
Mas como criar no Brasil um ambiente favorável para isso?
Infelizmente, em praticamente todas as discussões sobre o assunto no país, o problema da inovação parece ser encampado pelos diretores financeiros das empresas, que só fazem clamar por mais recursos públicos a custo baixo e menor carga tributária.
São raras as discussões em que se fala de ideias, projetos, engenharias, design e mercado.
Este parece ter sido o tom de uma reunião promovida pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, em uma mesa que reuniu o industrial Horácio Lafer Piva (Indústrias Klabin), Fernando Reinach (Fundo Pitanga), Gerson Valença Pinto (Natura) e Ricardo Felizzola (Altus).
Para Lafer Piva, um dos problemas é o componente educacional, que prejudica especialmente a inovação na indústria na área de Engenharia.
"Precisamos melhorar o currículo dos cursos de Engenharia, inserir conhecimentos mais técnicos e problemas mais complexos. Estamos colocando na escola menos gente do que a demanda do mercado. E faltam atributos específicos a muitos que concluem o curso", disse.
"Temos que melhorar esse profissional e enfrentar essa carência qualitativa e quantitativa, estimulando o estudo da Engenharia e a relação universidade-empresa. As empresas precisam cada vez mais de inovação e pesquisa. Ou a pesquisa é incorporada, ou não vamos chegar a lugar algum", afirmou Lafer Piva.
Para Felizzola, embora o déficit na educação e a dificuldade na interface universidade-empresa sejam aspectos importantes a serem levados em conta, não são preponderantes.
"A inovação não está na empresa nem na universidade, mas sim no mercado. Ela é um elemento econômico absolutamente ligado ao capitalismo. Para ela existir, tem que haver mercado. No Brasil se produz muito conhecimento, mas esse conhecimento é competitivo? Ele se transforma em PIB?", indagou.
"A inovação não é um objetivo por si só. O objetivo é a prosperidade e fazer com que o lócus empresarial seja mais competitivo", completou Felizzola.
Para ele, o país precisa desenvolver uma cultura empreendedora, a exemplo das startups, termo que designa empresas inovadoras recém-criadas, popularizadas a partir dos anos de 1990 com a explosão de empresas associadas à tecnologia no Vale do Silício (Califórnia), como Google, Apple, Microsoft, Yahoo e Facebook, entre outras.
"Quanto mais inovadora uma empresa, maior será a possibilidade econômica de ela virar sucesso e gerar produtividade e riqueza", destacou, citando o WhatsApp, o Twitter e o Instagram, nos Estados Unidos, a sueca Skype e as brasileiras Buscapé e Bematech.
Para Reinach, do Fundo Pitanga, além de uma cultura empreendedora, falta no país a cultura do risco.
"Em um projeto bom, a maior preocupação deve ser se a probabilidade de sucesso (sua utilidade pública) será menor que o esperado e não se o retorno financeiro da nova ideia será menor ou se o projeto levará mais tempo ou custará mais que o esperado. Na época dos descobrimentos, D. Manuel, rei de Portugal, investia em dezenas de caravelas, mas sabia o risco que corria e que a grande minoria delas poderia retornar com lucros. Para o fundo de capital de risco, cada empresa é uma caravela", comparou.
Valença Pinto, da Natura, lembrou que, quando a empresa começou suas atividades em 1969, enfrentou um mercado competitivo com outras empresas do ramo, como a tradicional norte-americana Avon. Hoje, a empresa brasileira tem uma receita líquida de R$ 7,01 bilhões, chega a quase 60% dos lares brasileiros, tornou-se uma multinacional e é a empresa líder do setor de cosméticos e higiene no Brasil.