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Meio ambiente

Descoberta correlação misteriosa entre terremotos e raios cósmicos

Redação do Site Inovação Tecnológica - 16/06/2023

Descoberta correlação entre terremotos e raios cósmicos
Mudanças na intensidade dos raios cósmicos que chegam à Terra podem ajudar a prever terremotos - mas precisaremos desvendar o enigma primeiro.
[Imagem: IFJ PAN/NASA/JSC]

Ligação entre raios cósmicos e terremotos

Cientistas poloneses descobriram uma correlação estatística forte e clara entre a atividade sísmica na Terra e as mudanças na intensidade da radiação cósmica que chega à superfície do nosso planeta.

Isso parece uma ótima notícia para uma primeira técnica capaz de ajudar não apenas a prever terremotos, mas a fazer isso com semanas de antecedência.

Mas a correlação é complexa demais, e os cientistas ainda estão discutindo se a descoberta terá esse efeito prático tão esperado.

As análises foram realizadas por meio de diversas técnicas estatísticas. Em cada caso, surgiu uma clara correlação entre as mudanças na intensidade da radiação cósmica e a magnitude somada de todos os terremotos com magnitudes maiores ou iguais a 4.

Com um detalhe importante: Essa correlação só se torna aparente quando os dados sobre os raios cósmicos são deslocados 15 dias adiante em relação aos dados sísmicos. Esta é uma boa notícia, sugerindo a possibilidade de detectar os próximos terremotos com bastante antecedência.

Infelizmente, não está claro nas análises se será possível identificar os locais dos terremotos. Isto porque as correlações entre as mudanças na intensidade dos raios cósmicos e os terremotos não são aparentes nas análises específicas por local; elas só aparecem quando a atividade sísmica é levada em conta em escala global.

Isso pode significar que, quando olhamos para as mudanças de intensidade dos raios cósmicos, estamos observando um fenômeno ao qual nosso planeta está submetido como um todo, e precisaremos agora descobrir como esse fenômeno global entra como elemento causal na cadeia de eventos que leva a um terremoto específico.

Uma descoberta, muitas perguntas

Na verdade, a natureza global do fenômeno observado e o avanço de 15 dias na atividade sísmica evidente na radiação cósmica não são os únicos quebra-cabeças intrigantes associados a esta descoberta.

Uma grande surpresa é a periodicidade em grande escala da correlação, um fenômeno que ninguém esperava: As análises mostram que o máximo de correlação ocorre a cada 10-11 anos, um período semelhante ao do ciclo de atividade solar. Mas não se apresse, porque a correlação não coincide em nada com o máximo do ciclo da nossa estrela.

Além disso, existem outras periodicidades comuns de natureza desconhecida nesses dados associando raios cósmicos e tremores sísmicos. Os exemplos incluem mudanças periódicas na atividade sísmica e na intensidade da radiação cósmica secundária ao longo de um ciclo correspondente ao dia estelar da Terra (igual a 24 horas menos ~236 segundos).

Será então que as correlações cósmico-sísmicas são causadas por algum fator que nos chega de fora do Sistema Solar, capaz de produzir simultaneamente radiação e efeitos sísmicos?

Essa falta de explicações simples para as periodicidades observadas levou os cientistas a sugerirem que, para resolvermos o enigma, será necessário levar em consideração o possível papel de outros fenômenos menos convencionais.

Um deles poderia ser a passagem da Terra por um fluxo de matéria escura modulada pelo Sol e outros corpos massivos em nosso sistema planetário. A Terra, com seu grande campo magnético, é um detector de partículas extremamente sensível, muitas vezes maior do que os detectores construídos pelo homem. Portanto, é razoável levantar a possibilidade de que esse sensor planetário possa responder a fenômenos que são invisíveis aos dispositivos de medição existentes.

"Independentemente da fonte das periodicidades observadas, o mais importante nesta fase da pesquisa é termos demonstrado uma ligação entre a radiação cósmica registrada na superfície do nosso planeta e sua sismicidade - e se há algo que podemos ter certeza, é que nossa observação aponta para oportunidades de pesquisa totalmente novas e empolgantes," disse o professor Piotr Homola, do Instituto de Física Nuclear da Polônia.

Descoberta correlação entre terremotos e raios cósmicos
Você sabe a origem dos raios cósmicos?
[Imagem: ASPERA/G.Toma/A.Saftoiu]

Credo

Esta pesquisa foi possível graças ao projeto internacional CREDO (sigla em inglês para Observatório Extremamente Distribuído de Raios Cósmicos).

Trata-se de um observatório virtual de raios cósmicos, aberto a todos, que coleta e processa dados não apenas de detectores científicos sofisticados, mas também de um grande número de detectores menores, entre os quais os sensores CMOS nos telefones celulares (para transformar seu celular em um detector de raios cósmicos, basta instalar o aplicativo gratuito CREDO Detector).

Uma das principais tarefas do CREDO é monitorar as mudanças globais no fluxo de radiação cósmica secundária que atinge a superfície do nosso planeta. Essa radiação é produzida na estratosfera da Terra de forma mais intensa dentro do chamado máximo Regener-Pfotzer, quando partículas de radiação cósmica primária - aquelas que chegam do espaço - colidem com as moléculas de gás da nossa atmosfera e iniciam cascatas de partículas secundárias, criando os famosos chuveiros de partículas.

Bibliografia:

Artigo: Observation of large scale precursor correlations between cosmic rays and earthquakes with a periodicity similar to the solar cycle
Autores: P. Homola, V. Marchenko, A. Napolitano, R. Damian, R. Guzik, D. Alvarez-Castillo, S. Stuglik, O. Ruimi, O. Skorenok, J. Zamora-Saa, J. M. Vaquero, T. Wibig, M. Knap, K. Dziadkowiec, M. Karpiel, O. Sushchov, J. W. Mietelski, K. Gorzkiewicz, N. Zabari, K. Almeida Cheminant, B. Idzkowski, T. Bulik, G. Bhatta, N. Budnev, R. Kaminski, M. V. Medvedev, K. Kozak, O. Bar, A. Bibrzycki, M. Bielewicz, M. Frontczak, P. Koacs, B. Lozowski, J. Miszczyk, M. Nizwiecki, L. del Peral, M. Piekarczyk, M. D. Rodriguez Frias, K. Rzecki, K. Smelcerz, T. Sosnicki, J. Stasielak, A. A. Tursunov
Revista: Journal of Atmospheric and Solar-Terrestrial Physics
DOI: 10.1016/j.jastp.2023.106068
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