Redação do Site Inovação Tecnológica - 01/04/2024
Processador de recozimento
Aquele que foi o primeiro computador quântico a chegar ao mercado, da empresa canadense D-Wave, usa um processo muito especial, conhecido como recozimento quântico, no qual o processador realiza uma busca pela melhor solução possível para um problema, representada pelo estado de menor energia de seus qubits.
Mas também é possível criar processadores de recozimento, também conhecidos como "recozedores", que não são quânticos, usando eletrônica comum, que funciona a temperatura ambiente.
Do mesmo modo que suas versões quânticas, os recozedores clássicos são projetados para resolver problemas de otimização combinatória, onde a tarefa é encontrar a melhor solução a partir de um conjunto finito de possibilidades. Isto tem amplas implicações para aplicações práticas em logística, alocação de recursos e descoberta de medicamentos e materiais.
Contudo, para fabricar um processador de recozimento usando a tecnologia eletrônica tradicional, conhecida como CMOS, é necessário que os componentes dos processadores estejam totalmente "acoplados", ou seja, que todos falem com todos. Só assim será possível encontrar a melhor combinação para um grande número de variáveis, o que é impraticável fazer com algoritmos rodando em computadores comuns.
Porém, a complexidade desse acoplamento, com a fiação que ele exige, vinha sendo um tropeço nada trivial para a escalabilidade dos processadores, ou seja, para construir processadores capazes de resolver problemas com números significativos de variáveis.
Híbrido eletrônico-spintrônico
Agora, Taichi Megumi e colegas da Universidade de Ciência de Tóquio, no Japão, descobriram uma solução para esse gargalo usando chips de alta integração (LSI: Large Scale Integration) - essa integração é um processo de fabricação de circuitos integrados que consegue combinar bilhões de transistores e outros componentes em um único chip.
A equipe criou um computador de recozimento escalável usando 36 chips LSI de cálculo, com tecnologia CMOS de 22 nanômetros, e um FPGA de controle, sigla para Matrizes de Portas Programáveis em Campo, que são circuitos integrados programáveis depois de estarem prontos. Esta tecnologia permitiu a construção de sistemas semicondutores totalmente acoplados em grande escala seguindo o modelo de Ising (um modelo matemático de sistemas magnéticos) com 4.096 spins.
O computador incorpora duas tecnologias distintas: Um método spintrônico, que permite 8 buscas paralelas de soluções, juntamente com uma técnica que reduz os requisitos de hardware em cerca de metade em comparação com os métodos convencionais.
Rival para os computadores quânticos
Em termos de relação de desempenho/consumo de energia, o processador de recozimento superou a simulação de um sistema Ising totalmente acoplado em um PC (i7, 3,6 GHz) em 2.306 vezes. Ele ainda ultrapassou o núcleo da CPU e o chip aritmético em 2.186 vezes.
O consumo de energia também é modesto. Operando a 10 MHz, o computador operou com um consumo de 2,9 W (1,3 W para a parte central) - esse consumo foi confirmado na prática solucionando um problema de cobertura de vértices usando todos os 4.096 nós do processador.
Mas a equipe quer muito mais. "No futuro, desenvolveremos esta tecnologia para um esforço conjunto de pesquisa visando um sistema LSI com o poder computacional de um computador quântico de nível 2050 para resolver problemas de otimização combinatória. O objetivo é conseguir isso sem a necessidade de ar condicionado, ou grandes equipamentos ou infraestrutura em nuvem, usando processos atuais de semicondutores. Especificamente, gostaríamos de atingir 2 milhões de spins até 2030 e explorar a criação de novas indústrias digitais usando isso," disse o professor Takayuki Kawahara, coordenador da equipe.