Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/11/2024
Fusão multicombustível
Uma mistura diferente de combustíveis e um ajuste para que esses combustíveis apresentem propriedades otimizadas permite superar algumas das principais barreiras para tornar a fusão nuclear uma fonte de energia prática.
A nova abordagem que está sendo proposta se baseia no deutério (2H) e no trítio (3H), vistos pela comunidade científica como o par mais promissor de combustíveis para manutenção sustentada da fusão nuclear para geração de energia.
A diferença está em um ajuste das propriedades quânticas do combustível usando um processo já existente, conhecido como polarização de spin. Isso não apenas obterá a eficiência máxima dos combustíveis, como também reduzirá drasticamente a quantidade de trítio (ou trício) necessária para iniciar e manter as reações de fusão, levando a sistemas de fusão mais compactos, de menor custo e maior segurança, já que o trítio é radioativo.
Além de precisar polarizar o spin apenas na metade dos combustíveis, a porcentagem de deutério pode subir para 60% ou mais da mistura, permitindo que o trítio queime de forma mais eficiente sem sacrificar a energia de fusão.
"Quando o gás sai de um fogão, você quer queimar todo o gás. Em um dispositivo de fusão, normalmente, o trítio não é totalmente queimado e ele é difícil de conseguir. Então, queríamos melhorar a eficiência da queima do trítio," disse Ahmed Diallo, do Laboratório de Física de Plasma de Princeton, nos EUA.
Combustível polarizado por spin
O spin quântico, embora seja comumente explicado como um "giro orbital" dos elétrons, é na verdade um momento magnético, muito diferente, por exemplo, do giro físico de uma bola.
Um bom cobrador de faltas pode lançar a bola com vários efeitos de giro diferentes porque há um continuum de possibilidades. Em contraste, há apenas algumas opções discretas para o spin quântico em uma partícula. No caso do elétron, o spin só pode ser +1/2 (para cima) ou -1/2 (para baixo). E, como deutério e trítio são isótopos do hidrogênio, ambos têm apenas um elétron, e o spin do átomo é determinado pelo spin desse elétron.
Mas isso faz toda a diferença: Quando dois átomos de combustível de fusão nuclear têm o mesmo spin, eles têm uma probabilidade muito maior de se fundirem. "Ao amplificar a seção transversal da fusão, mais energia pode ser produzida a partir da mesma quantidade de combustível," explicou Jason Parisi, membro da equipe.
Embora os métodos disponíveis para polarização de spin não sejam capazes de alinhar todos os átomos, a equipe garante que não é necessário alcançar 100% de alinhamento dos spins para se obter os ganhos. Na verdade, a equipe demonstrou que níveis modestos de polarização de spin já podem melhorar substancialmente a eficiência da queima do trítio, melhorando a eficiência geral e reduzindo o consumo do combustível.
Redução do combustível radioativo
Considerando um tokamak produzindo 481 MW de energia de fusão com combustível deutério-trítio na proporção 53:47 não polarizado, é necessário ter um tanque de trítio com no mínimo 0,69 kg - estes são os valores padrão usados hoje.
Ao polarizar pelo spin metade do combustível e usar uma mistura deutério-trítio na proporção 60:40, o inventário inicial de trítio cai para meros 0,08 kg - se for possível polarizar totalmente o combustível isso viabilizará uma mistura 63:37, reduzindo ainda mais a necessidade de trítio para 0,03 kg.
O trítio também é radioativo e, embora essa radiação tenha vida relativamente curta em comparação ao combustível usado em reatores de fissão nuclear, reduzir a quantidade necessária traz benefícios à segurança porque diminui o risco de vazamento ou contaminação - existem também propostas de fusão nuclear sem radiação.